Coluna de Marcus Prado - Diretor do Jornal da Cidade

As cores de Vitória fazem lembrar o III Reich

Edith Piaf cantou belas canções sobre o céu de Paris. Ainda hoje são ouvidas nos bares e nos boulevards mais famosos , ainda mais quando percebem a chegada de turistas. Com certeza, ela jamais viu um anoitecer em Ladeira de Pedras, um dos pontos mais altos e belos de nossa terra. Já vi algumas vezes o anoitecer em Paris, mas não troco jamais o colorido antonense pelas cores da pálida paisagem da capital francesa. Praga, Milão e Barcelona à noite não se comparam aos recantos mais altos de Ladeira de Pedras ao cair do sol. Aquilo que vi longe daqui não é céu, parece mais nevoeiro perto de um forno de carvão. Praga ao cair da noite é a cidade mais triste do mundo, principalmente no Outono. E o que dizer de Lisboa ao cair da tarde, na voz de Amália Rodrigues? Na rua de São Bento em que ela morava, eu próprio, ao lado dela, certa vez, vi um entardecer de triste nebulosidade. Lisboa no começo do outono é simplemsmente melancólica. Se o leitor quer ver um pôr-do-sol bonito, venha comigo fotografar nos engenhos Pombal (território sentimental de Zélia e Ariano Suassuna) e Arandu de Cima, no Monte das Tabocas. Suba comigo no monumento do Anjo, na Praça da Restauração, às 18 horas.
O entardecer na Vitória chamou atenção do genial Câmara Cascudo, quando, levado pelo professor José Aragão, fez uma pausa na entrada do I. Histórico, prá ver a cidade iluminada apenas pela luz tênue do horizonte e pelo azul-azul do céu distante. Se Federico Garcia Lorca tivesse visto o pôr-do-sol da Vitória de Santo Antão, não teria cantado tanto o verde de sua Espanha.

Certa vez eu disse à viúva do "poeta do azul", Carlos Pena Filho, na casa dela, minha amiga Tânia Carneiro Leão (estava conosco, reunidos num jantar olindense um tanto íntimo, o ex- governador Miguel Arraes, sua irmã mais velha e seu cunhado, companheiro de exílio), que a Vitória de Santo Antão não teve jamais um poeta que descrevesse em prosa e verso suas cores, sendo como é uma cidade cercada de canaviais, com seus alambiques cheirando a cana de açúcar, com tantas e numerosas plantações de hortaliças, frutas e verduras. Acho graça a quando falam do azul como cor oficial da cidade vitoriense secularmente verde. Ainda mais quando tentam pintar de uma só cor a cidade inteira, praças, monumentos, repartições públicas, tal como fizeram na trágica Alemanha de Hitler, quando ele sonhava em se perpetuar no poder, com a força dos que integravam a intelligentia do ditador. Na Alemanha tão sofrida no passado, ainda há os que desejam reeditar o III Reich. Cheguei a ver em Heildeberg e em Bonn (mais precisamente no estado de Nordrhein-Westfalen) muros inteiros pintados com as cores preferidas daquele que foi cognominado "o flagelo

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