COLUNA MARCUS PRADO - JORNAL DA CIDADE

VITÓRIA E BOMBAIM: INCRÍVEIS SEMELHANÇAS


Nenhuma cidade de grande porte do Interior do estado possui, como a nossa, um trânsito tão caótico e irresponsável de veículos de quatro e duas rodas. Nem Nova York, a maior metrópole do mundo, onde estive mais de uma vez em trabalho de jornal, nem Bombaim, única metrópole indiana, que vive hoje verdadeiro pesadelo demográfico. Ninguém sabe com certeza quantos habitantes tem Bombaim. Os recenseamentos oficiais atestam 12 milhões de habitantes, dos quais a metade não tem onde morar. A Reay Road é a Mariana Amália de lá. Esta avenida, que originalmente tinha quatro pistas, para permitir que os veículos rodassem depressa, agora só tem duas. Os habitantes dos sloms (casebres), imigrantes do interior na maioria, andam, falam, dormem, sentam-se, trabalham, lavam-se sobre o asfalto. A avenida nunca teve calçadas e talvez nunca as terá. Reay Road tornou-se um lugar onde os homens e os veículos se rivalizam. Uns e outros agem como se o seu espaço fosse um reino. Vi e fotografei tudo isso de perto, para uma reportagem publicada no Caderno Viagem do DIARIO, quando era seu editor de Cultura. Não me falaram de registros de ameaças e insultos aos transeuntes, partindo dos motoristas. Nesse aspecto, Bombaim não é igual a Vitória de Santo Antão. Ambas se assemelham, porém, num dado ilustrativo das nossas omissões públicas: não possuem guardas-de-trânsito. Lá, por causa da pobreza. Aqui, por interesses a serem decifrados pelo leitor inteligente. Bombaim tem outra incrível semelhança com a nossa terra. Não há sinais de trânsito. A Vitória de Santo Antão, talvez a quinta maior cidade do estado, possui apenas três sinais de trânsito, perdendo feio para cidades menores como Limoeiro, Gravatá, Escada, Bezerros, para citar aquelas mais próximas. O último sinal de trânsito que colocaram na cidade terá vinte velinhas acesas no próximo ano. Garanhuns é um exemplo a ser imitado por qualquer governante sério. Há dezenas de sinais e um grande respeito ao transeunte. A impressão que nos dá, quando lá chegamos, é de que alguma autoridade local fez estágios em Londres, Milão ou unique, por onde andei, mais de uma vez, dirigindo pelo centro urbano.
Para concluir: em Bombaim não há serviços volantes de publicidade interrompendo livremente o trânsito, ao contrário da recordista Vitória. Esta é a cidade interiorana talvez do Brasil, em matéria de abuso de som, mais poluída. Na Reay Road de minha terra natal, recentemente, eu e Neide Ferreira (minha colega do futuro JORNAL DA CIDADE), quase fomos agredidos por um motoqueiro com ares de cão raivoso, que se julgava dono da Avenida Mariana Amália, já que há muito se julga dono por inteiro da cidade. Aliás, a cidade parece hoje uma grande cooperativa: está cheia de donos e feudos. Na louca Avenida de Bombaim, só porque dei uma esmola a uma pobre menina, ela quase me beija o rosto. Não obstantes esses contrastes urbanos e sociais, prá mim, não há lugar no mundo igual a Vitória. Esta cidade tem um fascínio que não sei explicar. Será por causa das mulheres belas e calientes ou por causa do cheiro de cachaça, que não bebo, ou pela cor do canavial, que pintou de verde as térreas férteis de Vitória.

5 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Marcus Prado e a todos que fazem o Blog. Este artigo foi pertinente, nunca percebi tanta^
coincidência junta. É um primoroso texto.

Anônimo disse...

Perfeito! Marcus Prado conseguiu resumir o que nós, vitorienses cansados de tanta falta de administração pública, gostaríamos de dizer a esses incompetentes que estão tentando fazer nossa cidade mudar de nome, parece que o interesse é que ela passe a ser chamada de Derrota. Chega de imundície, chega de trânsito medonho! Estamos em uma terra de ninguém?

Anônimo disse...

Agradeço ao professor Ataíde Nunes pelas honrosas referências ao meu artigo sobre Vitória e suas semelhanças com Bombaim.Tenho, aliás, um livro pronto, a ser um dia editado, sobre essas comparações, feitas por onde passei, fora do Brasil, ligadas à minha terra natal.

Cordialmente
Marcus Prado

Anônimo disse...

Dessa vez é ao leitor Francisco Jr. que remeto meu agradecimento por suas palavras elogiosas ao meu artigo neste Blog. Quero lhe dizer que a Vitória dos nossos dias parece mais a Espanha de Miguel de Unamuno, o genial escritor e Reitor da famosa Universidade de Salamanca, onde estive em visita mais de uma vez. A Espanha me dói, disse Unamuno. Eu afirmo: A minha terra natal me faz sofrer. Sofro por essa gente enganada pelos politicos responsáveis por seu atraso - quase sem excessão, raros , raríssimos, são dignos de respeito. Como essa gente sabe enganar!!!! Os 160 mil habitantes , coitados, não imaginam como são traídos.

Marcus Prado

Anônimo disse...

Meu caro Marcus Prado:
Estou em sua querida Vitória na casa de um assíduo leitor dos seus artigos, Júnior, que não lhe conhece pessoalmente, ainda, mas que espera por esta oportunidade, pois admira muito o que você escreve. Vim para um casamento de uma aluna da minha namorada, na UFPE., cujo pai, acredito você tenha conhecido, o sr. João de Barros, que teve intensa participação nos carnavais vitorienses.
Nada mais fiel do que este seu artigo sobre o caos do transito nesta cidade, que acabo de constatar ao vivo e dramaticamente. É preciso reclamar, como você está fazendo. Vamos ver se alguem se senbiliza.
Um forte abraço,
Silvio Soares
Tel. 99674199
E-mail: silvio.soares@uol.com.br

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