Coluna do Jornalista Marcus Prado
Tabocas e o Morro do Pai Inácio

Depois de uma permanência de poucos dias em Nova York, atendendo convite da Kodak International, quando tive a oportunidade de visitar a exposição do altar-mor do Mosteiro de São Bento, no Guggenheim Museum, voltei ao Brasil, com escala de cinco dias na cidade baiana de Lençóis, a convite do Secretário de Turismo local. Meu intuito, na Chapada Diamantina, era me juntar a um grupo de jornalistas e fotógrafos de vários países para fotografar a região e escalar montes em busca de flores exóticas, além de espécies raras de orquídeas e tropicais, para o livro que a Embrapa planejava lançar em 2006 e que se tornaria finalista do famoso Prêmio Jabuti de obra de arte fotográfica. Depois de me deixar sob os cuidados de Cristina, uma bela mulher com cheiro e cor de canela, lábios grossos pintados de batom vermelho e gosto de romã no pescoço, dona da melhor hospedaria da cidade (ela não media esforços para satisfazer o viandante, mostrando-se sempre generosa e surpreendente na descoberta de coisas que agradam o seu íntimo profano), o secretário de turismo de Lençóis nos levou ao Morro do Pai Inácio, local belíssimo, celebrado pelas lendas que existem no lugar.
Ao chegar ali me lembrei de imediato do Monte das Tabocas, apontado como o solo sagrado dos heróis que expulsaram os invasores holandeses de Pernambuco, marco histórico mais importante de minha terra natal. Para surpresa minha, observei que o zelo dedicado pelos baianos de Lençóis ao Morro do Pai Inácio, que não tem nada de histórico, é infinitamente maior, comparando com o que fazem os vitorienses com o seu Monte das Tabocas. Foi gratificante constatar tamanha preocupação com a preservação ambiental e ecológica do patrimônio da cidadezinha baiana de Lençóis. Ao ponto de tudo, ali, inclusive a subida ao Morro, ser feita sob rigoroso controle, guiada por um profissional do IBAMA, proibindo-se, sob fiscalização severa, que se faça mau uso do lugar; que se tire do galho uma flor sequer. A cidade toda colabora com essa mentalidade, não se joga uma folha de papel no chão. E o turista é observado sempre pelos que moram no lugar quando deixa de ficar atento às leis de preservação do ambiente. Quando estivemos no Monte das Tabocas, há cercas de quatro anos, cumprindo missão de rotina, eu e meus companheiros do Conselho Estadual de Cultura (C.E.C.), além de convidados do Patrimônio Histórico Nacional, de Brasília, e da Fundarpe, na expectativa de conhecer ações locais anunciadas pela Prefeitura, encontramos o Monte e todo seu entorno em total abandono. Sujo, feio e com um fedor enorme, vindo de uma latrina que funciona ainda hoje, perto de um quiosque, sem manutenção e limpeza. Um local de enorme importância histórica sem a menor estrutura para receber, de forma decente, um visitante.
O conselheiro do C.E. C, pintor João Câmara (autor de um belo quadro inspirado na Batalha das Tabocas), elaborou excelente documento que foi discutido entre órgãos governamentais na busca de alternativas capazes de revitalizar o patrimônio. Inclusive uma representação do Instituto Histórico local. Conheço o documento de Câmara e tenho participado de sua discussão em vários níveis de apoio técnico, inclusive no Fórum do C.E. C, que coordeno, sobre o Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Pernambuco.

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