Filósofo cria língua universal para web e prevê nova revolução do conhecimento


A internet permitiu que, pela primeira vez na história, se tornasse possível manter um arquivo universal do conhecimento e da produção cultural de nossa espécie. Mas para o filósofo francês Pierre Lévy, esse poder já começa a mostrar limitações, e é hora de promover uma “recauchutagem” na estrutura da rede.

Mas para transformar a web em uma máquina capaz de identificar a verdadeira inteligência coletiva, no entanto, Lévy prevê dois grandes desafios: a ausência de profissionais habilitados para trabalharem na organização das informações, e a necessidade da adoção de um padrão para a chamada “web semântica” – que permitirá que todo o conhecimento seja coordenado automaticamente por conceitos, e não mais simplesmente pelos links entre documentos.

A evolução proposta por Lévy - dono de uma bibliografia extensa sobre cibercultura e sobre a relação entre o virtual e o real - passa pela criação de regras para a organização das informações. Para isso, o filósofo desenvolveu uma linguagem universal capaz de compreender as ideias expressas em qualquer idioma e que, ao mesmo tempo, pode ser processada por computadores.

“Isso significaria o fim da fragmentação da informação, atualmente dividida por conta de barreiras de linguagem e escolhas diversas de sistemas de organização”, afirma Lévy, em entrevista ao G1. O projeto coordenado pelo francês é desenvolvido por um grupo de pesquisadores na Universidade de Ottawa, no Canadá.

Leia a íntegra da entrevista com Pierre Lévy

A IEML (sigla em inglês para “metalinguagem da economia da informação”) é completamente artificial, e segue, nas palavras de Lévy, “regras bastante estritas”. Conceitos universais são codificados utilizando sequências de seis símbolos com significados primitivos: o código *E:**, por exemplo, significa “vazio”. Os símbolos são organizados em grupos de três, e cada “camada” de informação reúne três grupos anteriores. Termos utilizados constantemente ganham abreviações, o que facilita a criação de frases.

“Você está lendo um documento e identifica que ele trata sobre os conceitos ‘x’, ‘y’ e ‘z’. O computador será capaz de identificar que este documento está ligado a outros, e ajudará a filtrar, navegar e expandir seu acesso a conhecimentos correlatos”, afirma Lévy.

Ciências como psicologia, economia e sociologia seriam as maiores beneficiadas com a adoção deste código universal. Lévy acredita que as ciências humanas viverão, na próxima geração, uma revolução semelhante à que impulsionou os estudos naturais com a invenção da prensa rotativa por Johannes Gutenberg, no século XV.

“Hoje em dia, todos os dados sobre o comportamento humano podem ser reunidos no ciberespaço, o único problema é que ainda não temos a capacidade de explorar essas informações”, explica o francês. “Se alguém escreve um blog em chinês, eu não consigo ler, você não consegue ler e os programas de tradução automática, como do Google, não são muito bons. Portanto, não há comunicação”.

Mas há barreiras – reconhecidas pelo próprio criador – para transformar esse “Esperanto eletrônico” em realidade. Há outros projetos que pretendem ocupar essa “quarta camada” da internet (ver infográfico abaixo), alguns deles inclusive apoiados pelo próprio inventor da web, o engenheiro britânico Tim Berners-Lee. “Talvez não seja a língua que eu criei que será a base dessa revolução científica, mas haverá (na web do futuro) algo nesses moldes”, diz Lévy.


Fonte: G1

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