A penitenciária de Caruaru, em Pernambuco, não é mais a mesma desde que uma mulher assumiu a direção.
Cirlene Rocha é vaidosa, bonita, mulata, de fala mansa, decidida, jovem, corajosa, mãe, advogada, ex-agente penitenciária e diretora de um presídio: ela manda e todos obedecem.
“Sou severa, eles sabem disso. Aqui eu falo pra eles que aqui não tem nada de graça, eles vão ter que conquistar com os próprios méritos”, diz a "xerife" do agreste, a mulher que mudou o conceito de mandar nos homens.
O complexo penitenciário tem capacidade para 98 presos, mas atualmente está com uma superlotação de 921.
Nos últimos sete anos, mesmo assim, não houve nenhuma rebelião no presídio.
Nenhum assassinato, nenhum conflito grave nos sete anos em que Cirlene é a diretora da penitenciária.
Quem desobedecer uma ordem dela, vai para a solitária. Até inimigos declarados, presos de quadrilhas rivais, dormem na mesma cela e convivem sem violência dentro do presídio.
"Eu não quero problema, têm que ser todos amigos. Aqui não é ambiente de guerra, é ambiente de paz", afirma Cirlene.
"Tem um que matou a irmã do outro, tem um que estuprou a mulher do outro, todos os casos se você imaginar tem. Se um olhar com a cara feia para o outro é punido os dois", diz a diretora. E a maior punição não é ficar isolado na solitária: é ser obrogado a mudar de prisão.
Ela anda pelos corredores da prisão, entra nas celas, conversa com os presos, sem nenhum tipo de segurança. Aliás, a polícia fica fora do presídio.
"Há uma concisentização do grupo de ele escolher: vocês querem um ambiente de paz ou um ambiente de guerra? E eles querem de paz", afirma. "Ele não é besta de querer um ambiente de guerra, porque a família se sente muito angustiada".
Tesouras, ferramentas e ate navalhas são usadas no trabalho dos presos, mas nunca sçao aproveitadas como armas. “Um preso fiscaliza o outro”.
As divergências são resolvidas nas mesas de sinuca ou jogos de dama. Na quadra, eles jogam futsal e praticam capoeira. Há uma equipe de professores de educação física em convênio com a prefeitura, que incentiva a prática de esportes.
Nas salas de aula, os presos são alfabetizados e aprendem o básico em educação. Uma capela foi construída dentro da penitenciária, onde são realizados os cultos religiosos e os ensaios do coral.
A padaria produz 3500 pães por dia, para consumo interno. Cada espaço da penitenciária é aproveitado. Os presos estão se especializando também em artesanato, uma tradição nesta região do nordeste. Eles fazem bonecas que são vendidas na feira de Caruaru.
Há também a rádio Fênix, sistema de som comunitário ouvido em todas as dependências do presídio; tudo mantido pelos presos.
"Todos quando chegam aqui são iguais. Não quero saber o que eles cometeram, nem a vida pregressa dele em outras unidades prisionais. Aqui eles começam do zero", afirma a diretora.
Fonte: G1
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