A esquerda somos nós, diz líder dos tucanos Sérgio Guerra na Veja

O senador pernambucano Sérgio Guerra, de 62 anos, prepara-se para a tarefa mais difícil de sua carreira: coordenar a campanha que pode reconduzir seu partido à Presidência da República. Ele já dá como certa a candidatura do governador de São Paulo, José Serra. Juntos, eles preparam a estratégia para enfrentar a ministra Dilma Rousseff, que representará o governo mais bem avaliado da história. Será a segunda vez que Serra vai disputar a Presidência da República. Na primeira, em 2002, perdeu para Lula. Naquela ocasião, Serra era visto como o candidato de centro-direita, por representar o governo "neoliberal" de FHC. Lula era o homem da esquerda, que fazia oposição. Oito anos depois, o redemoinho da política inverteu os papéis. O PT lançará a candidatura governista, defendendo a mesma política econômica de FHC, e o PSDB, agora na oposição, apostará numa posição mais à esquerda, como explica o senador nesta entrevista a VEJA.

O governador José Serra é o candidato do PSDB à Presidência da República?
Nós trabalhamos com esse cenário.

Com a desistência do governador de Minas, Aécio Neves, por que o PSDB não anuncia de uma vez a candidatura de Serra?
Serra tem compromissos com o estado de São Paulo. A população paulista espera que ele cumpra suas obrigações até o fim do mandato. Quando ainda existia a disputa entre Serra e Aécio, nós sentíamos que havia a necessidade de definir logo o nome. Como o governador de Minas Gerais desistiu, o anúncio se tornou irrelevante. Virá no momento apropriado. Isso não vai demorar.

Aécio já disse que não aceita ser vice na chapa tucana. Quem será?
A definição do vice se dará apenas depois do anúncio da candidatura Serra. O nome pode vir do PSDB ou do DEM, que é nosso grande parceiro. Há bons quadros nos dois partidos.

O governador de Minas parece bem descontente com o desfecho dessa disputa...
Tenho 100% de certeza que Aécio estará ao nosso lado durante a campanha. Desistir não foi uma decisão fácil para ele. A população de Minas esperava a candidatura dele a presidente. Não é fácil para Aécio administrar essa pressão. Mas cada coisa no seu tempo. Agora, ele poderá se dedicar à campanha dos nossos aliados no seu estado.

Sem Aécio na chapa, o PSDB não enfrentará ainda mais dificuldades na disputa com a candidata governista, Dilma Rousseff, que terá no seu palanque o presidente mais popular da história?
Temos um candidato fortíssimo, que não está à frente nas pesquisas por mera sorte. Serra é um político inteligente, preparado, que sabe governar e já mostrou isso. Tem história e compromisso com o país. O governo vai de Dilma, que não tem nada disso. Ela nunca foi candidata, não tem história, hospedou-se por algum tempo no PDT e agora foi para o PT. Dilma não tem o que dizer nem o que mostrar. Qual o currículo dela? Dilma é candidata porque o presidente assim quis. Mas essa história de Lula de saias não funciona.

Ela será a candidata de um governo que beira a unanimidade. O PT vai comparar os números do governo Lula com os do governo tucano.
Isso não vai colar. Eles querem impor essa campanha
plebiscitária, uma pauta artificial, mas o eleitor não é bobo. Na hora da campanha, quem vai disputar a eleição serão Dilma e Serra, cada um com sua biografia. A não ser que a Lula se
esconda… (risos) Ato falho. Que a Dilma se esconda.

Como Serra poderá conquistar o eleitorado do Nordeste, que idolatra o presidente e foi largamente beneficiado por programas como o Bolsa Família?
Ninguém terá os votos que Lula tem no Nordeste. Nem Dilma. Fala-se muito em transferência de votos, mas isso acontece até certo ponto. Não acredito que haverá tanta transferência para Dilma. Tenho visto isso no interior do Nordeste: o povo não ama a ministra. Mas muita gente gosta do Serra. Não será como em 2006, quando os nordestinos votaram maciçamente em Lula. Naquele ano, só fizemos campanha em Sergipe. Nos outros estados, não havia organização. Aliás, eu não podia nem falar no nome de Alckmin (então candidato do PSDB). Só queriam saber do Lula. Agora é diferente. Estamos mais organizados, temos um candidato fortíssimo.

Caso Serra vença, haverá mudanças substanciais na política econômica?
Sem dúvida nenhuma. Iremos mexer na taxa de juros, no câmbio e nas metas de inflação. Essas variáveis continuarão a reger nossa economia, mas terão pesos diferentes. Nós não estamos de acordo com a taxa de juros que está aí, com o câmbio que está aí. Estamos criando empregos no exterior. Os últimos resultados da balança comercial são negativos. Precisamos estabelecer mecanismos para criar empregos no Brasil. Espero que a sociedade nos compreenda. Será necessário fazer um rigoroso ajuste das contas públicas. Hoje, o governo gasta muito – e mal. Os gastos cresceram além da capacidade fiscal do país.

E como transcorreriam essas mudanças?
Se ganharmos, agiremos rápida e objetivamente. A forma de fazer será discutida no momento adequado. Haverá um Ministério do Planejamento que realmente planeje, e não o desastre que está aí hoje. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não se realizou. Não há prioridades programáticas, só números inflados. Apenas os projetos eleitoreiros, os que têm padrinhos políticos, estão andando. As estradas estão esburacadas, os aeroportos estão na iminência de outro apagão, a infraestrutura de transportes, como os portos, foi entregue a políticos e a grupos de pressão. Isso é o PAC na realidade – e nós vamos acabar com ele.

Falando assim, até parece que o PSDB está à esquerda do PT...
Mas nós estamos à esquerda mesmo. Se ganharmos, vamos acelerar os investimentos na educação e na saúde. Manteremos o Bolsa Família, que é um mecanismo eficiente de erradicação da miséria e da fome. O PT não é de esquerda. Já foi; não é mais. O PT se transformou num partido populista. Antes, o PT tinha militância nas grandes cidades. Agora, tem cabos eleitorais nos grotões, pagos com dinheiro público, que escorre por meio de ONGs. Isso é esquerda? Não, é populismo. A verdade é que o PT só gosta de democracia quando lhe convém. Na eleição passada, quando estávamos atrás nas pesquisas, o PT introduziu o crime na campanha, com o dossiê fajuto dos aloprados e aquela pilha de dinheiro que ninguém sabe de onde surgiu. Agora que estamos na frente, imagine o que eles vão fazer. Será uma campanha sangrenta. Eles vão fazer de tudo para impedir uma possível vitória nossa. O que está acontecendo atualmente são apenas ensaios.

Como assim?
Dilma e o PT estão fazendo campanha eleitoral sem a menor cerimônia. Isso é contra a lei. Estamos assistindo a um banho de propaganda, na linha "Pra frente, Brasil", do Médici (general Emílio Garrastazu, presidente entre 1969 e 1974, na ditadura militar). É uma estratégia bem articulada de propaganda, na qual as empresas públicas entraram fortemente. O incrível é que empresas privadas também participam disso. O filme sobre Lula (Lula, o Filho do Brasil, em cartaz) foi financiado assim. Isso é inconcebível numa democracia.

As empresas não são livres para apoiar o governo?
Apoiam para se aproximar do poder. Mas não é só isso. Em 2002, a máquina pública não foi usada na campanha de Serra a presidente. Agora, há comícios de Dilma e Lula toda semana. É um espanto. Eu vi isso no meu estado. No ano passado, Dilma passou dois dias visitando as obras de transposição do Rio São Francisco. Eu as visitei em duas horas. O que justifica ficar tanto tempo lá? É claro que se trata de campanha, e ainda por cima paga com dinheiro do contribuinte. Isso é reflexo do trato do PT com a coisa pública. Nenhum governo até hoje tinha sido capaz de aparelhar a máquina estatal de alto a baixo. Isso é péssimo para o país.

Por exemplo?
A Petrobras. É a maior empresa do país, um governo dentro do governo, e sempre foi poupada da sanha do fisiologismo. Era aceitável que se nomeassem diretores, mas a interferência parava por aí. No governo do PT, virou uma esculhambação. Puseram apaniguados em todos os setores e cargos.

Mas a Petrobras não está divulgando lucros recordes a cada trimestre?
Certamente seriam bem maiores, não fosse o loteamento. Essas nomeações causaram perda de eficiência e corrupção. No nosso governo, liquidaríamos essa prática. Seriam nomeados apenas técnicos que tivessem interesse no bem da Petrobras – e não no de um partido político. É preciso moralizar as ações políticas.

O PSDB vai mesmo usar esse discurso na campanha? Os maus costumes já se estabeleceram como aceitáveis no mundo político.
Eu votei em Lula várias vezes, mas nesse quesito ele me decepcionou. Acho que Lula foi o último presidente a fazer política com as mãos sujas. O clima político está saturado. A convivência parlamentar não suportará mais uma legislatura com tantas crises. Atingimos o limite. Não há mais espaço para esse tipo de mentalidade que redundou no mensalão, na compra espúria do Parlamento. É a mesma mentalidade que troca votos no Congresso por cargos no governo, por emendas
parlamentares.

Essas práticas já eram empregadas antes do governo Lula.
Não estou dizendo que antes era o céu e que agora vivemos no inferno. Mas o PT levou ao limite essas atitudes corruptas. O mensalão não morreu. Ele sobrevive nessas práticas, no desrespeito às normas democráticas. Os mensalões têm se expandido pelo país, nas assembleias e nas câmaras municipais.

Qual a autoridade do PSDB para criticar os petistas, no momento em que o senador Eduardo Azeredo acaba de se tornar réu no Supremo Tribunal Federal, acusado de liderar o mensalão mineiro?
Eu não concordo que tenha havido mensalão em Minas. O senador Azeredo é um dos homens públicos mais íntegros do país. Temos certeza de que ele será inocentado no STF.

Por que o PSDB não consegue fazer oposição?
Tentamos fazer, mas é difícil. O Congresso está desmoralizado, e o exercício da oposição sempre se deu no Parlamento. Se o Parlamento não tem força, a oposição fica limitada. As comissões parlamentares de inquérito, que são o instrumento mais poderoso da minoria, foram
exterminadas. O governo aprendeu a aniquilar CPIs.

O governo FHC também enterrava CPIs, como a da Corrupção, que foi barrada no fim da gestão tucana.
Cometemos nossos equívocos, mas o PT destruiu o Congresso. Crises como a do mensalão nascem no Executivo. Não há diálogo do governo com o Congresso. O PT montou tropas de choque, com parlamentares inexpressivos, que não se constrangem em defender o indefensável, atacam os outros sem pudor e agridem a imprensa. A gasolina dessa tropa é o dinheiro público. Foi o que se viu na CPI dos Cartões Corporativos e na CPI da Petrobras, que terminaram sem começar.

Como o PSDB poderia fazer diferente, se a qualidade do próximo Congresso provavelmente será a mesma?
Primeiro, não podemos partir do princípio de que o Parlamento não presta. É preciso respeitar todos os partidos e buscar diálogo com quem queira conversar. Vamos acabar com a linguagem dos cargos e das emendas. É claro que há elementos que não se dobram a argumentos republicanos. Com esses, não haverá conversa. Para isso, é preciso ter capacidade de liderança, o que Serra sempre demonstrou ter. Nosso candidato terá autoridade política e moral para conduzir esse processo de limpeza. Dilma, por outro lado, não poderá fazer isso. Ela é filha desse contexto ruim.



Fonte: Revista Veija

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