Esporte leva esperança a irmãos

Portadores de Distrofia Muscular de Duchenne, Weverton e Otávio são vitoriosos na vida e no esporte


Uma dona-de-casa do Agreste pernambucano se casou e teve três filhos. Essa história tinha tudo para ser a mais alegre, porém não foi bem assim que as coisas aconteceram para Márcia Belo. Quando Otávio nasceu, há 16 anos, a felicidade do primeiro filho era tão grande que ninguém podia imaginar o que estava por vir. Dois anos depois, a família Belo teve uma nova alegria. A chegada dos gêmeos Wellington e Weverton. Ao completar nove anos, o primogênito, Otávio, começou a apresentar sintomas de uma doença grave e, então, veio a notícia. Ele era portador de Distrofia Muscular de Duchenne. Não bastasse um filho, após dois anos, os gêmeos também desenvolveram o mesmo problema e, há seis meses, um deles, o Wellington, faleceu.
A tristeza, no entanto, foi amenizada desde quando os garotos passaram a conviver com o esporte. Como uma reviravolta na vida, Otávio e Weverton, os dois filhos vivos de Márcia, acabam de conquistar os títulos de campeão e vice-campeão no Campeonato Regional de Bocha Olímpica, em Fortaleza. A vitória trouxe de volta, ainda que tímidos, sorrisos e brilho nos olhos dos novos para-atletas, além da esperança de uma vida com perspectiva de futuro, com direito, inclusive, a classificação para o Campeonato Brasileiro de Bocha Olímpica, em setembro, no Rio de Janeiro.
Não é nenhuma novidade que o esporte é um eficiente instrumento para elevar a estima. Mas para os irmãos Belo, o encontro com a bocha significou ainda mais. Significou a opção por estar vivo. A Distrofia Muscular de Duchenne é uma doença transmitida geneticamente. O defeito em um dos dois cromossomos materno não desenvolve na mulher portadora, mas é passado ao filho e cessa a produção de distrofina, hormônio que compõe a membrana do músculo, causando, então, uma progressão incessante na degeneração dos tecidos musculares. “A Duchenne é uma doença muito difícil de se lidar. Normalmente, os portadores têm depressão porque ela se manifesta repentinamente, e o paciente desenvolve deformidades e atrofias. A bocha tem sido como um sentido para a vida destes meninos. Eles ocupam os pensamentos e evoluem emocionalmente”, contou a fisioterapeuta que cuida dos irmãos Belo, Vanessa Vander Linden.
Inicialmente, a partida de Wellinton levou a família inteira à depressão. Vítima de uma complicação no aparelho respiratório agravado pela presença da Duchenne, o gêmeo de Weverton não resistiu. Na mãe, Márcia Belo, é fácil enxergar um buraco no olhar que jamais será recuperado. Ainda assim, acorda cedo diariamente para levar os outros dois filhos à fisioterapia, terapia ocupacional, cardiologia e psicologia. Para piorar, pai, mãe, dois irmãos e um sobrinho de 14 anos vivem somente da aposentadoria de Otávio, um salário mínimo. “Todos os dias tenho que me convencer a viver intensamente e aproveitar cada momento. Quero acordar cedo, esticar o dia, só pra ficar com eles”, disse ela, com a pureza e amor que somente os olhos de uma mãe podem transparecer.
Wellington não chegou a conhecer a bocha, esporte que trouxe a vontade de viver de volta a sua família. Somente um mês após sua morte os irmãos iniciaram os treinos na Associação dos Portadores de Deficiência de Caruaru - que oferece adaptação ao paradesporto. Ainda assim, com todo respeito à bocha e aos resultados alcançados, os irmãos Belo são como qualquer outro garoto. A manifestação da doença, que se mostra somente aos nove anos de idade, não tirou de Otávio e Weverton - e também Wellington - uma vida normal por muitos anos, com direito a correr e jogar bola. Talvez por isso eles mantenham o sonho de qualquer outro menino nascido no Brasil. “Queremos ser jogador de futebol”.


Fonte: FolhaPE

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