Baixa escolaridade do Nordeste favorece “sedução” dos políticos

Segundo maior colégio eleitoral do Brasil, responsável por 26,97% do total de votos, o Nordeste possui o maior número de eleitores analfabetos do País. Dos 34,37 milhões de votantes na Região, 4,2 milhões (12,22%) se declaram analfabetos, segundo um levantamento feito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no final de 2007. O índice é superior aos das demais regiões somados, que chega a 4,03 milhões. No Nordeste, 70,11% dos eleitores têm, no máximo, o primeiro grau incompleto. Para especialistas, o nível de escolaridade dos brasileiros que escolhem seus representantes é um fator decisivo na hora do voto. Pessoas com baixo nível educacional são mais suscetíveis à "sedução" dos políticos, podendo, inclusive, negociar seu voto em troca de atos assistencialistas ou de favores que atendam a necessidades imediatas.
Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, o grau de instrução do eleitor tem impacto direto na escolha de seu representante. "O nível de escolaridade é um dos que mais influencia no voto, porque a educação está diretamente ligada à forma como você percebe o mundo. Ela muda percepções a respeito de escândalos e de desempenho de um político, por exemplo", explicou. O também cientista político e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ernani Carvalho, concorda que a escolaridade do eleitor tem peso significativo na hora do voto, mas acentua que esse fator não é determinante na escolha. "Teorias que tratam do voto geralmente alertam para a racionalidade do eleitor independente do seu estado sócio-econômico. Eleitores vão ter sempre escolhas baseadas no contexto de informação que eles possuem. Isso quer dizer que a escolaridade é um algo mais, mas não é determinante", colocou.
A baixa escolaridade dos eleitores nordestinos não é um fator isolado. A Região possui 34,8% dos seus habitantes na condição de pobres e 21,4%, vivendo na indigência, conforme dados de 2005 apontados na pesquisa de acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), realizada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), através do Núcleo de Opinião e Políticas Públicas (Neppu), e pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
Pobre e sem educação, esse cidadão está mais vulnerável a trocar seu voto por medidas assistencialistas. Classificando os números revelados pelo TSE como uma "tragédia", o ex-ministro da Educação e atual senador, Cristovam Buarque (PDT-DF), ressaltou essa relação entre escolaridade e condições sócio-econômicas do eleitor. "Essas pessoas com baixo nível de educação não têm oportunidade na vida. Elas estão condenadas à pobreza. Isso quer dizer que, na hora do voto, votam naquele que as ajudou a sair um pouco que seja da pobreza, seja dando uma camisa, seja dando dinheiro. Politicamente, isso é um desastre. O eleitor sem educação, por não ter alternativas na vida, fica vulnerável a vender seu voto por qualquer valor", afirmou.
Na hora de conquistar o voto desse eleitor, apresentam vantagem os políticos que lançam mão de políticas assistencialistas, segundo concluiu Leonardo Barreto, da UnB. "Como essas pessoas têm baixa escolaridade, normalmente, têm baixa condição de renda. Então acontece que acabam se tornando dependentes da ajuda governamental". Em 2006, os resultados das urnas atestaram essa teoria. Erguendo a bandeira da "revolução pela educação", Cristovam Buarque concorreu à Presidência da República, mas foi derrotado logo no primeiro turno. Com uma votação expressiva no Nordeste, o vencedor do pleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preferiu apostar nos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, que o ajudaram a permanecer na Presidência por mais quatro anos. A fórmula utilizada pelo presidente deve servir de inspiração a muitos políticos nas próximas eleições municipais, sobretudo no Nordeste. "Acho que as eleições deste ano vão ter essa marca muito forte, voltada para o assistencialismo, porque foi a grande ferramenta que permitiu a reeleição de Lula. Os políticos assistencialistas têm forte possibilidade de serem reeleitos. Eles usam a miséria como forma de ameaça. Já o que não está no governo e está tentando entrar acaba caindo nesse discurso populista também. O resultado disso são campanhas pobres e demagogas", analisou Leonardo Barreto. O cientista político Ernani Carvalho pontuou que o assédio dos políticos ao eleitorado pobre e de baixa escolaridade nem sempre é garantia de vitória. "Isso tem que ser relativizado. Como vários políticos disputam o voto, o tiro pode sair pela culatra, pelo fato de o voto ser secreto", alertou.
Além dos políticos populistas, o eleitorado analfabeto é alvo, também, dos candidatos detentores de veículos de comunicação, como rádio e televisão, e que utilizam esses meios para promoção pessoal. "Como essas pessoas não sabem ler, são orientadas pelo rádio e pela TV. Elas se tornam facilmente manipuladas pela mídia e têm uma capacidade de crítica limitada", destacou o cientista político da UnB. Fiscalizar se há abuso ou não por parte dos candidatos que detêm veículos de comunicação é uma tarefa difícil, segundo Barreto. "Existem muitas formas de utilizar esses veículos, por isso é preciso uma vigilância grande para que ninguém se aproveite da miséria do eleitor. Ferramentas foram criadas pelo TSE, como a proibição de criação de novos programas sociais, este ano, ou de reajuste dos atuais benefícios. Ainda assim, acho que ainda estamos longe do modelo ideal para combater tudo isso", finalizou.

Reportagem: Alexandre Rogério

1 Comentário:

Anônimo disse...

Quando Leonardo Barreto se refere que a vitória do Presidente Lula foi em decorrência tão somente do BOLSA FAMÍLIA, tenho que considerar que ele está sendo casuística. Há um equívoco procativo na opinião deste cientista político.
É bom frisar que este ponto foi prepoderante, mas admitir que foi fundamental é baixar o nível da escolha popular.
Lula foi reeleito por um conjunto de fatores políticos, sociais, culturais e econômicos. É inegável que seu governo avançou na consolidação dos avanços sociais, diferente dos que passaram, apesar de alguns equívocos do seu governo, pelo qual só poderemos corrigir com a sociedade civil cobrando.
O Blog deveria selecionar melhor quando reproduz opiniões de gente bancada pela direita elitista deste País, que faz de tudo pra voltar ao poder e massacrar o povo.

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