Coluna do Jornalista Marcus Prado

População precisa de 360 mil metros cúbicos/dia, mas recebe apenas 24.

Vila operária do Grupo JB é a que conta com melhor serviço no Município.

Penalizada desde o século XVII, quando a história registra graves problemas ligados à higiene urbana na povoação da antiga vila de Santo Antão, nossa terra, por causa de um dos males causados pela falta absoluta de saneamento e higiene , quando a Cólera Morbus (para citar o caso mais grave) chegou a matar mais da metade da população, por um triz deixou de cumprir a mais cruel ordem que o Governo Imperial decretaria contra um povoado da Província de Pernambuco. Determinava o Imperador dom Pedro II que todas as casas "antonenses", inclusive as localizadas nas áreas rurais, fossem imediatamente queimadas e destruídas, como única alternativa de eliminar o foco da terrível doença infecto-contagiosa. Nenhuma cidade do território nacional, proporcionalmente, em número de habitantes, sofreu tanto com a chamada "cola", uma das 5 pragas mais mortíferas da história. Os historiadores apontam como causas dessa tragédia (morria gente de minuto a minuto), as péssimas instalações sanitárias do Município, além da imundície que se amontuava na cidade (partindo do canal do Roncador, hoje Av. Mariana Amália) e a falta de hospitais. A população não contava nessa época com nenhuma fonte de água potável segura. A transmissão da doença era diretamente dos dejetos fecais de doentes por ingestão oral, principalmente em água contaminada. Morria tanta gente que os cadáveres ficavam insepultos. O panorama local de hoje (com o grande aumento da densidade demográfica) não se assemelha felizmente ao passado, nem há risco de epidemia igual àquela, mas não há nenhum exagero nem sensacionalismo de nossa parte ao afirmar que a cidade retrata, nos dias atuais, aspectos que se assemelham ao passado histórico lembrado. A prova se obtém numa circulada pelas periferias e subúrbios, pelos bairros mais pobres, que são numerosos. Segundo fontes levantadas pelo JORNAL DA CIDADE, a situação da rede de esgotos urbanos praticamente não teve melhorias ao longo dos anos (confira matéria especial no próximo número), diante do desordenado crescimento de Vitória. Na Câmara de Vereadores há denúncia de que esgotos correm a céu aberto, e apontam como exemplo o da Rua Brasiliano de Queiroz Monteiro.
NINGUÉM PROTESTA - No passado era a ignorância que predominava. Hoje, parece mais o predomínio da mordaça. Somos hoje uma população com mais de 160 mil habitantes, recordista em desperdício do precioso liquido e a que tem menos água nas torneiras. Embora possua como poucas cidades mais de um manancial em condições de abastecer com tranqüilidade, sem faltar, a área urbana e todo o seu entorno. Salvo a Associação Comercial, os clubes de serviço e algumas vozes da classe política com requerimentos que se perdem na papelada da burocracia governamental, quase nada tem sido feito para solução objetiva do racionamento d`água. O prefeito e os deputados, estaduais e federais, assim como os vereadores, terão espaço garantido neste Jornal para dizerem o que têm feito. Ao chefe do poder executivo já foi formalmente solicitada informação sobre o assunto, através do seu secretário de obras, mas não obtivemos resposta. Na verdade, temos de sair deste estado letárgico e silencioso e atentar para os votos dos representantes constituídos. Estão nossos representantes realmente defendendo os interesses da comunidade ou o que lhes convém particularmente?
DÉFICIT DE 40% - A cidade acha-se atualmente, segundo fonte oficial, com um déficit na ordem de 40% no seu abastecimento. Os mananciais de Jussara e Águas Claras, que abastecem nossos reservatórios, nos garantem apenas 24.192 metros cúbicos/dia. Mas a cidades que mais cresce em PE em população, precisa, para sair do racionamento, de 360 mil metros cúbicos/dia. Portanto, construir nova barragem no Município constitui ação emergencial.
INCRÍVEL PARADOXO - Apenas 40 mil habitantes, segundo dados da Compesa, são beneficiados, de oito a oito dias, com a chegada do líquido em sua casa. Para uma cidade que desponta com forte vocação de crescimento e de industrialização – eis um incrível paradoxo!– esse número já é festejado com muita "alegria". Pior já esteve, antes do governo Eduardo Campos, quando a Compesa só abria as torneiras apenas cinco dias durante o mês. Ainda mais vergonhoso, quando um técnico do alto escalão da estatal, no governo passado, chegou a elaborar um documento em que destacava SEM PRIORIDADE (fato documentado pelo JORNAL DA CIDADE), qualquer melhoramento e ampliação do abastecimento d`água do Município. De sua parte, o deputado Elias Lira enfatiza que procurou por todos os meios sensibilizar o ex- governador Jarbas Vasconcelos para o problema do racionamento do líquido. E mostra que houve ações do governo para o setor, citando melhoramentos na barragem de Aguas Claras.
CONTAMINAÇÃO - Em quase todas as áreas hidrográficas em que se subdivide o sistema hídrico vitoriense, há registros de contaminação dos mananciais. Resíduos industriais, dejetos animais, esgoto doméstico são apontados como os principais agentes de poluição das reservas.). As longas estiagens, assim como atividades econômicas sem preocupação com o meio ambiente, também são tidos como vilões que ajudam a tornar crítica a questão da água, tanto no fator qualidade quanto na quantidade. O levantamento dos recursos hídricos e o detalhamento dos agentes de poluição e do nível de comprometimento das bacias devem ser encarados como condição básica para uma administração mais eficiente da água. Em contrapartida, a população deve colaborar em todos os sentidos, evitando o desperdício, em primeiro lugar, e ajudando a reduzir os níveis de poluição. É preciso conscientizar sobre o valor econômico e social que a água tem, para haver controle quantitativo e qualitativo da sociedade. (Leia nesta matéria o que o empresário Jaime Beltrão fez na sua vila operária, em Cachoeirinha)
DETERMINAÇÃO DE MUDAR - O engenheiro Marcos Costa, chefe da Gerência Regional Mata-Sul da Compesa, foi mandado, há cerca de cinco meses, pelo governador Eduardo Campos, com a determinação de mudar esse vergonhoso panorama. O JORNAL DA CIDADE conversou com longamente com ele, fez numerosas indagações, pediu outros tantos esclarecimentos. "Vim, por indicação do presidente da Compesa, do Prefeito Aglailson e do deputado Aglailson Júnior, com a missão de pensar alto e sério, prá mudar o rumo das coisas, eliminar o racionamento", disse-nos. Nossa equipe – pelo que ouviu do dirigente - saiu com a impressão de que a Compesa (hoje redimensionada administrativamente) está levando a sério o problema do abastecimento d`água de Vitória. A unidade local está agora equipada para execução de ousadas tarefas. O governador Eduardo Campos, de sua parte, já garantiu que não concluirá o seu mandato sem resolver o problema de abastecimento de Municípios do porte de Vitória. "Já se confirma uma reserva orçamentária na ordem de R$ 40 milhões para o setor", disse-nos Marcos Costa (30 anos de experiência como técnico em abastecimento da RMR). É pouco, diante dos custos do projeto final que envolve a ampliação da bacia de Águas Claras e a que poderá ser construída, como reforço, no Rio Jaboatão. Ou mesmo uma barragem nascente das águas do Tapacurá, para a qual já conta a Compesa com um projeto em fase final de aprovação. A questão é da alçada exclusiva do Governo do Estado, cabendo-lhe o mérito do empreendimento.
MELHOR SERVIÇO – O GRUPO JB – Açúcar e Alcool, é uma empresa vitoriense que se preocupa com a qualidade da água consumida por moradores de sua vila operária, no engenho Cachoeirinha, sede de um dos maiores complexos industriais do país, na sua especialidade. É nessa localidade onde se consome a melhor água potável de Vitória. O novo sistema implantado, segundo Jaime Beltrão, dirigente da empresa, consiste numa turbina que puxa a água e a envia para uma câmara de decantação, na qual todas as impurezas orgânicas e sólidas são transformadas em pequenos flocos. Em seguida o líquido é decantado, transportado para um conjunto de oito filtros de areia e seixos e recebe a cloração, etapa fundamental para a saúde dos moradores das vila. Todo serviço é oferecido inteiramente grátis, havendo no entanto muito rigor para evitar desperdício e na manutenção da qualidade do produto.


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