Montanha de Livros no Lixo

Em um País que tem 10% da população com mais de 15 anos analfabeta, que o tempo médio de estudos é somente de 7,3 anos e que o número de livros lidos anualmente por pessoa não chega a dois, causou indignação a cena de desperdício do dinheiro público flagrada, ontem de manhã, na Avenida Norte, bairro de Santo Amaro, área central do Recife. Milhares de livros didáticos novos comprados pelo Ministério da Educação (MEC) e repassados para a prefeitura de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata pernambucana, foram parar no lixo. Em vez de serem usados por alunos e professores, os exemplares, muitos deles ainda com a embalagem lacrada, vão virar papel reciclado, uma vez que quem os comprou foi um catador de material reciclável. A montanha de livros chamou a atenção de quem passou pelo local. Havia publicações de matemática, português, história, geografia, estudos sociais e ciências. A maioria era destinada a séries do ensino fundamental. Mas também havia títulos de alfabetização de turmas de Educação de Jovens e Adultos. (EJA). O catador, que não quis dizer o nome, contou que comprou os exemplares do Hospital de Câncer de Pernambuco. “Disseram que as palavras que tinham aqui nesses livros não servem mais. Que está tudo velho”, afirmou. Sem nenhum constrangimento, enquanto conversava com a reportagem do JC, ele arrancava as capas dos livros, que não servem para reciclagem, e guardava o miolo para ser pesado depois. “Tem mais de 1.300 quilos de papel”, contou. Em vários pacotes havia uma etiqueta informando o destinatário. Pelo menos cinco colégios da rede municipal de Vitória de Santo Antão deveriam ter recebido as publicações, segundo essas etiquetas: Escola Municipal Nossa Senhora das Graças (localizada no Engenho Marmajuba), Escola Municipal José Marinho Alvares (Sítio Urubas), Escola Municipal Santa Terezinha (Engenho Ribeirão), Caic Diogo de Braga (Águas Brancas) e Grupo Escolar Municipal Mariana Amália. Em todos os livros, havia o carimbo do Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação (PNLD), programa do MEC que distribui material didático para as escolas públicas. Referiam-se aos anos de 1998 a 2006. O Hospital de Câncer de Pernambuco informou que recebeu, ontem, a doação de 4.053 livros da Secretaria de Educação de Vitória. No ofício em que consta os títulos e a quantidade doada, a secretaria explica que os livros serão repassados à unidade de saúde porque “encontram-se inutilizados por terem seu PNLD vencido”. O hospital vendeu os exemplares para serem reciclados por entender que, por isso, não teriam como ser aproveitados.
Prefeitura Culpa a Gestão Anterior
A atual secretária de Educação de Vitória, Maria José de Lira, disse que encontrou caixas de livros guardadas no prédio do órgão. “Fiquei abobalhada com a quantidade de livros, muitos ainda estavam lacrados e outros mofados”, contou Maria José, que assumiu a pasta da Educação em fevereiro. Segundo ela, a atual gestão do Prefeito Elias Lira (DEM) não pode ser responsabilizada pelo problema. “A resposta para tanto livro guardado tem que ser dada pelo prefeito anterior. Na nossa gestão, todos os livros recebidos pelo Ministério da Educação foram encaminhados para escolas e alunos.” Maria José disse que procurou a Secretaria Estadual de Educação para saber o que fazer com as publicações antigas. “Informaram que a vida útil de cada livro é de três anos. Como o prazo havia expirado, pois esses livros são de 1998 a 2006, decidimos doar os exemplares para o Hospital do Câncer”, justificou a secretária. Questionada por que não aproveitar os livros para bibliotecas, ela informou que fez isso. “Chamei alguns professores para ver o que dava para aproveitar. Mas a maioria foi doada”, garantiu. Entre o material descartado, estavam 25 exemplares de livro que conta a história de Pernambuco.
A ex-secretária de Educação de Vitória, Luzinete Rodrigues, que esteve à frente da gestão do ex-prefeito José Aglaílson (PSB), garantiu que todos os livros foram repassados para as escolas. Já José Aglaílson explicou que havia uma comissão que acompanhava as ações na Secretaria de Educação e que interesses políticos querem culpá-lo por um problema que não existe.
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável pelo programa de distribuição de livros, informou que uma resolução permite que os livros sejam descartados após três anos de uso.
Fonte: Jornal do Commercio

0 comentários:

Postar um comentário

Aproveite este espaço com responsabilidade e exerça seu papel de cidadão .