Coluna de Paulo Roberto - 03 DE AGOSTO, O QUE COMEMORAMOS?

A cidade da Vitória de Santo Antão , sem sombra de dúvida, bastante privilegiada: por sua localização; por abrigar três instituições de ensino superior; por ser a terra dos engenhos de cana-de-açucar e conhecida nacionalmente por fabricar a legitima cachaça nordestina; por ser o berço do escritor Osman da Costa Lins (autor de romances, contos, textos para o teatro,( como Lisbela e o Prisioneiro, por exemplo). Também por ser a terra natal do jornalista, escritor e compositor Nestor de Holanda, e de tantas outras celebridades que fizeram de Vitória de Santo Antão uma cidade de vanguarda.
Sua arquitetura ainda preserva belas construções, como a sede do Instituto Histórico e Geográfico. O prédio, que hoje abriga um acervo de aproximadamente cinco mil pessoas e foi construí­do em 1851, já teve vários tipos de ocupação. Serviu, inclusive, para hospedar o Imperador Dom Pedro II e a sua Famí­lia, quando em visita a Pernambuco, em 1859.
Como se não bastasse, em Vitória de Santo Antão encontramos o Monte das Tabocas, que “ em 03 de agosto de 1645 “ foi palco da célebre BATALHA DO MONTE DAS TABOCAS, entre os luso-brasileiros e os holandeses. Os primeiros, liderados por Antônio Dias Cardoso e João Fernandes Vieira, entrincheirados nas partes altas e protegidos pelos tabocais, derrotaram e expulsaram os holandeses. Por isso, não cansamos de repetir: AQUI, EM VITÓRIA, NASCEU O SENTIMENTO NATIVISTA, que nos faz amar e defender os valores de nossa terra e de nossa gente.
Cumprindo a promessa feita por Fernandes Vieira, foi inaugurada no dia 03 de agosto de 1945, tricentenário da batalha das Tabocas, a capela de Nossa Senhora de Nazaré, construí­da com pedra do local.
Em 9 de novembro de 1978, assinou-se a escritura de desapropriação de parte da área que circunda o espigão principal. Na época do conflito, a vegetação era composta por imensos bambuzais, sinônimo de tabocais, dão­ o seu nome. Outra riqueza no local era o pau-brasil. Em 11 de março de 1986, o governo estadual homologou o tombamento do sí­tio histórico.
Podemos, assim, perceber que a nossa Cidade está em festa. Mas essa festa poderia ser mais alegre, se os ensinamentos de nossos ilustres personagens fossem transmitidos aos nossos jovens e se a meméria cultural do municí­pio fosse preservada.
No entanto, lamentavelmente, neste 03 de agosto de 2007, vimos o patrimônio histórico colocado em segundo plano e nada que lembrasse uma verdadeira celebração, digna de um evento tão importante, como assinalou o eminente historiador Leonardo Dantas, em conferência ministrada ontem, no Silogeu. Aliás, é nosso dever parabenizar o Instituto Histórico e Geográfico da Vitória, na pessoa de sua ilustre presidenta, Sra. Eunice Xavier, por ter promovido uma solenidade à altura do que hoje revivemos.
Pois bem, Prof. Dantas assinalou, em sua aula magna, que a batalha travada em Tabocas deu aos luso-brasileiros a certeza de que era possí­vel vencer e expulsar os holandeses, marcando o iní­cio de uma campanha exitosa de nosso lado. Isso, graças a homens valorosos como Antônio Dias Cardoso, cuja lembrança nem sempre fpo reverenciada como deveria. Portanto, festejar Tabocas é reavivar a coragem necessária para defendermos nosso paí­s e recuperar o orgulho de pertencermos ao Brasil.
Mas, hoje, não podemos nos orgulhar do desprezo em que se encontra o Monte, outrora defendido com bravura. Um espetáculo desolador deixa estarrecido quem visita o lugar, sobretudo no seu dia, o 03 de agosto. A capela em ruí­nas, cerimônias mal conduzidas, o pavilhão nacional esquecido (o mesmo ocorrendo com os sí­mbolos de Pernambuco e da Vitória de Santo Antão), o povo desmotivado, o sentimento nativista desacreditado. E cada um dos responsáveis por essa triste realidade deve reconhecer sua culpa, cabendo uma enorme parcela àqueles que deveriam zelar pela administração pública.
O que, então, podemos comemorar, diante desse caos cí­vico? A certeza de que os vitorienses trazem, no sangue, a vontade de mudar, de recomeçar, de construir um outro futuro e ir em busca do que parece perdido. Essa é a grande lição que aprendemos com Tabocas.

Paulo Roberto

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