Aids avança na faixa dos cinqüentões

Sexo, sim. Mas, casual. "E eu vivo sem namorada? Com tanta moça bonita, era um castigo minha mãe ficar sem nora. Mas, é sem compromisso". Neste momento, diz, está de "rolo" com quatro mulheres. Sai com uma... com outra... E assim vai. Paquerador, prefere não ser identificado. Não fica bem revelar tanta intimidade numa página de jornal. Mas uma coisa ele não esconde. A idade: 67 anos. Pois é, sexo não é assunto só de jovem. Aids também não. O aumento da expectativa de vida e a grande revolução provocada pelas drogas para disfunção erétil, como o Viagra, deram um novo impulso à vida sexual de quem passou dos 50. Mas se teve uma coisa que não mudou muito foi a adesão à camisinha. E o reflexo disso é assustador. O número de novos casos de Aids em pessoas com 50 anos ou mais aumentou 174% no Brasil de 1996 a 2007, saltando de 1.722 para 4.715 infectados.
É nessa faixa etária que os casos mais crescem. Em todas as regiões. E Pernambuco segue a mesma tendência (o aumento foi de 170% no período). O estado tem posição de destaque no cenário nacional. É o 7°no país e 1° no Norte/Nordeste no total de casos de Aids e na quantidade de mortes pela doença na casa dos 50 anos ou mais. O primeiro registro da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida no estado ocorreu em 1983 e o primeiro nessa faixa etária em 1987. Nesta segunda-feira, 1° de dezembro, dia Mundial de Luta Contra a Aids, o Ministério da Saúde lança um alerta para o "clube dos enta" com a campanha "Sexo não tem idade, proteção também não".
O aumento no número de infectados a partir da meia-idade com o vírus HIV foi mais forte nos últimos sete anos. De lá para cá foram registrados 62% dos 47.437 casos notificados desde o início da epidemia (na década de 80) em brasileiros com 50 anos ou mais. De 1996 a 2006, a incidência mais que dobrou (de 7,5 para 15,7 pessoas com HIV por 100 mil habitantes). A maioria é formada por homens heterossexuais.
Nesses últimos dez anos, quando houve o pico de crescimento de casos de Aids em cinqüentões, sessentões, setentões e assim vai, também aconteceu uma verdadeira revolução sexual. Em parte, relacionada aos benefícios das tais drogas que facilitam a ereção. A conhecida pílula azul (o Viagra), por exemplo, completou uma década neste ano. Em 1998, segundo o laboratório Pfizer, foram vendidos 3,8 milhões de comprimidos no Brasil. Em dez anos, foram 80 milhões. A empresa responsável pela produção do Viagra discorda, mas o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Juvêncio Furtado, diz que o uso dos medicamentos para disfunção erétil tem papel importante no crescimento de casos de Aids em pessoas com 50 anos ou mais.
"Acredito que é a principal causa desse aumento. As pílulas deram uma segurança para o homem, principalmente. Ele acabou tendo mais atividade sexual. Perdeu o medo. E isso também acaba influenciando a busca por outras parceiras. Parceiras mais jovens", disse.
O vovô do início dessa reportagem foi casado três vezes, tem duas filhas, de 37 e 15 anos, e uma netinha de 3. Desinibido, diz que já usou tudo quanto é remédio para disfunção erétil. Hoje faz reposição hormonal. "Voltei aos 18", gaba-se. A camisinha é que nem sempre fez parte do seu arsenal de conquista. Não foi infectado pelo vírus HIV, mas durante muito tempo se expôs ao risco. Só de cinco anos para cá, quando as parceiras já não eram mais tão constantes, é que ele se preocupou e passou a usar o preservativo. "Várias vezes pulei a cerca e não usei camisinha", disse.
Segundo a diretora do Programa Nacional de DST e Aids, Mariângela Simão, cerca de 62% dos jovens entre 13 e 24 anos usam preservativo. Na casa dos 50 para cima, esse número cai para 20%. "Quando esse grupo etário iniciou a vida sexual não existia Aids ainda. Eles não criaram o costume de usar camisinha. Pelo contrário, eles consideram que Aids é uma doença de jovem, do outro", disse Mariângela.
"A principal influência para essa mudança de comportamento entre os mais idosos é a pílula para disfunção erétil, como o Viagra. Os homens ficaram seguros"
Juvêncio Furtado - infectologista

Aumento de casos da doença em pessoas com 50 anos ou mais


Fonte: DP

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