Copa e Olimpíada são chances de Brasil deixar de ser 'país da festa', diz consultor


O fato de que vai sediar eventos de grande porte como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 pode ser uma chance de o Brasil reverter sua imagem de apenas um “país de festa” e ter também sua 'marca' respeitada nos quesitos política e economia. A análise é do consultor governamental britânico Simon Anholt, criador do conceito de "nation branding", que "mede" o valor da marca de um país de acordo com sua percepção e admiração no mundo.

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O Brasil ficou apenas em 20º lugar no ranking global de países com melhor imagem internacional na edição 2009 do Nation Brands Index. Enquanto a “marca” do país é bem avaliada em quesitos que incluem seu povo, cultura e história, o Brasil não é visto com olhos tão positivos em relação a política e economia.

A evolução da imagem do Brasil com a Copa e a Olimpíada, explicou Anholt, depende de como o país vai aproveitar as oportunidades, pois grandes eventos como estes não melhoram a imagem do país automaticamente, mas são ótimas oportunidades de se destacar na mídia global. A China, por exemplo, saltou do 28º lugar do ranking de países de 2008 para o 22º lugar no deste ano, graças ao desempenho econômico durante a crise e às Olimpíadas de Pequim, no ano passado.

“O que mais importa é a forma como esta oportunidade é usada. A grande tragédia vai ser se os Jogos servirem apenas para reforçar o clichê do Brasil, pois logo que foi feito o anúncio do Rio como sede de 2016, por exemplo, toda a mídia dos EUA e da Europa foram unânimes em dizer que seria uma grande festa. Acho que não vai ser bom para o Brasil ser visto apenas como um ótimo lugar para uma festa, pois estamos falando de uma das potências emergentes em economia e política, que precisa usar esta oportunidade para mostrar que é útil além de decorativo”, disse Anholt.
Anholt foi o criador, em 1998, do termo “nation branding” para esta imagem, algo como “marca de nação”, e é um dos coordenadores da pesquisa anual que avalia a imagem de 50 países. Segundo ele, o problema da imagem de país da festa é comum no ranking de países, e é preciso trabalhar duro para poder ser visto como divertido, mas também sério, ou logo vai ser esquecido.

O consultor político britânico Simon Anholt, criador do termo nation branding (Foto: Divulgação)

“Olhando para o Índice, vê-se que a opinião pública classifica os países em dois tipos. Um deles é divertido e decorativo, mas não muito sério; enquanto o outro é eficiente, competente, mas não muito divertido. A Alemanha e a Suíça estão neste segundo grupo, enquanto Itália e Brasil estão no primeiro. Se um país quer ser uma potência, precisa ter as duas características, como fazem os EUA e a Suécia, por exemplo, vistos como eficientes e divertidos.”

Seriedade e diversão

O Nation Brands Index é uma pesquisa coordenada por Anholt e pelo Instituto Gfk Roper. Ele mede a reputação de 50 países no mundo e desenha o perfil deles de acordo com a percepção internacional, acompanhando sua evolução ao longo dos anos. Para a pesquisa de 2009, foram entrevistadas 20.939 pessoas adultas, sendo aproximadamente 1.050 em cada um dos 20 países usados como referência (incluindo o Brasil). Cada entrevistado responde a uma série de questões sobre os 50 países, avaliando seis pontos: Exportações, Governabilidade, Cultura, Povo, Turismo e um duplo, Imigração e Investimento. Cada uma dessas categorias também se torna um ranking isolado.
Por mais que não seja uma demonstração perfeita da força internacional dos países, segundo Anholt, entender a percepção que outros países têm do Brasil, por exemplo, é importante porque tudo o que um país quer fazer num mundo atual depende da sua imagem. “Se um o país tem uma boa imagem, é mais fácil e barato atrair investimentos, atrair turistas, ajuda, atenção e respeito da opinião pública global, além de valorizar seus produtos e seu povo em todo o planeta. Tudo depende da imagem, pois o mundo é muito grande e as pessoas não conhecem bem todos os países, e baseiam suas opiniões e decisões na imagem que o país tem internacionalmente”, explicou.
A classificação do Brasil no índice deste ano mostrou uma pequena evolução, subindo do 21º para o 20º lugar. O país ainda é o mais bem avaliado da América Latina. Além dele, Argentina (23º), México (28º), Chile (38º), Peru (39º), Cuba (44º), Equador (46º) e Colômbia (47º) também foram avaliados.
O Brasil aparece à frente em todos os seis itens analisados, mas a variação da avaliação que se faz do país, entretanto, deixa bem claro que o país é mais lembrado pela diversão, pois é o 10º colocado no ranking de Cultura, o 17º no que avalia o Povo e o 12º no de Turismo. No item Exportação, entretanto, quando se avalia a percepção dos produtos do país, o Brasil é o 26º colocado. Em Governabilidade, analisando a seriedade do poder público, é o 24º lugar; e é ainda o 21º no item Imigração e Investimento, quando se considera a qualidade de vida e a capacidade de atrair estrangeiros.

Foto: Marcos Arcoverde/Agência Estado/AE

Saara, região de comércio popular do Rio de Janeiro, já vende produtos 'não-oficiais' da Rio 2016 nesta terça-feira (6). (Foto: Marcos Arcoverde/Agência Estado/AE)

Ranking

Depois de ter sido apenas o 7º colocado no Índice do ano passado, os Estados Unidos melhoraram sua imagem internacional e se tornaram o líder em 2009. Segundo Anholt, uma evolução tão grande é rara, e pode ser creditada às mudanças no governo do país.

“A reputação dos Estados Unidos, na verdade, voltou ao normal. Estamos falando do país mais famoso e mais poderoso do mundo, mas que, durante o governo de George W. Bush, especialmente nos últimos anos, ficou numa posição artificialmente baixa. Muita gente estava insatisfeita com os Estados Unidos. A mudança não é nem tão causada pela chegada de Obama, mas pela partida de Bush. A saída dele fez com que as pessoas voltassem a ter um sentimento normal, de admiração, em relação aos EUA”, disse.

Além dos EUA, os primeiros dez colocados são França (2º), Alemanha (3º), Reino Unido (4º) e Japão (5º). O Canadá sofreu a maior queda na pesquisa de 2009, caindo da 4ª para a 7ª colocação. A Itália se manteve em 6º lugar pelo segundo ano consecutivo, enquanto a Suíça ficou em 8º, seguida pela Austrália em 9º e a Espanha e Suécia empatadas na 10ª posição.

No extremo oposto, Colômbia e Quênia empataram na 47ª colocação. Angola foi para o 49º lugar, enquanto o Irã apareceu em último.

Desenvolvimento Humano

Segundo Anholt, há um paralelo entre o ranking da imagem dos países e o do Índice de Desenvolvimento Humano, calculado pela ONU levando em conta a qualidade de vida e divulgado também nesta semana, em que a Noruega aparece em primeiro lugar e o Brasil em 75º de um total de 182 países.

“Normalmente os países que têm melhor qualidade de vida são os mesmos que são bem vistos internacionalmente. Não é uma ligação direta, mas normalmente há uma relação, já que os países que têm boa imagem são os mais relevantes internacionalmente. A qualidade de vida conta, mas a importância global faz com que a marca seja mais valorizada independentemente da classificação no IDH.

Segundo ele, a Noruega não aparece no ranking de melhores imagens de 2009 porque há um revezamento dos países que fazem parte do índice, que só trata de 50 nações. Muitos desses países que têm a imagem avaliada recebem relatórios detalhados da sua marca, da sua imagem internacional.



Fonte: G1

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