Portadores de deficiência auditiva criticam legendas do guia eleitoral

Quem assiste ao guia eleitoral já deve ter percebido as legendas dos programas, voltadas para pessoas portadoras de deficiência auditiva. O uso do recurso é determinado pela resolução 22.718, do Tribunal Superior Eleioral, que também dá a possibilidade de utilizar um intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) durante a propaganda gratuita.
Para atestar a eficácia das legendas, o JC OnLine acompanhou o guia dos candidatos majoritários do Recife junto com a dona de casa Onilda Kátia Gomes Kater de Freitas (Foto acima), que é surda e assiste aos programas todos os dias. Resultado: a maioria das informações veiculadas através dos programas não são compreensíveis devido a falta de visibilidade das legendas. "As letras são muito pequenas e as frases passam muito rápido, por isso não dá para entender", frisou ela.
Segundo Onilda Kátia, o tamanho da fonte das legendas de João da Costa (PT) e Cadoca (PSC) são as menores. Ela também reclamou da barra vermelha nas propagandas de Roberto Numeriano (PCB) e Kátia Telles (PSTU), que atrapalham a visibilidade. Ainda de acordo com a eleitora, o uso da legenda seria melhor se as fontes fossem maiores. O ideal é que o plano de fundo seja preto com letras brancas.
A estudante Roberta Malta compartilha da mesma dificuldade. "Gostaria muito de assistir, mas não consigo compreender o guia. O que faço? Desligo a TV", informou ela. O instrutor de Libras Igor Rocha acha "que os candidatos não têm respeito pelos surdos e que colocam a legenda apenas para cumprir a lei, mas que não pensam em facilitar o acesso ao processo eleitoral". Ele informou que já escolheu o candidato a prefeito porque já o conhece, mas que pretende votar em branco para vereador "por não conseguir entender as idéias deles".
A estudante Leôncia Oliveira explicou que a forma que encontrou para conhecer as propostas dos candidatos é conversando com a família, que geralmente indica em quem ela deve votar. Onilda Kátia também precisa do auxílio dos parentes para definir o voto. "Muitas vezes tenho que assistir e explicar o guia quando ela não entende", frisou a filha de Onilda, Adrielly Gomes.
A proposta de todos eles é uso da "janelinha" com o intérprete. "Mesmo que ela faça os sinais rápidos, a gente entende", disse Onilda. "Isso seria o ideal, é um sonho para qualquer surdo", salientou Igor Rocha. A coordenadora pedagógica do Centro Suvag Lúcia Inês de Sá Barreto explicou que o português é a segunda língua do surdo e que, por isso, o mais indicado é o uso do intérprete da Libras.
Além da falta de visibilidade, a dificuldade é a rapidez com que as frases são exibidas. Mesmo que saiba ler, o portador da deficiência auditiva utiliza através da linguagem de sinais uma construção verbal diferente do português. Por exemplo, a frase "o Recife tem três principais problemas" ficaria em linguagem de sinais contruída da seguinte forma: "problemas principais três Recife ter".
TRE - De acordo com o juiz da propaganda eleitoral no Recife, Paulo Torres, não existe um padrão para o tamanho das legendas. Segundo ele, caso alguém "sinta-se prejudicado pode recorrer ao Ministério Público Eleitoral", que deverá analisar o caso.
PROPAGANDA - De acordo com Onilda Kátia, as propagandas da Justiça Eleitoral seguem o mesmo padrão observado nos guias de Pernambuco. A diferença é que a narração é menor e, por isso, as legendas são veiculadas por mais tempo, facilitando a leitura.

Reportagem: Alexandre Rogério

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