Coluna do Jornalista Marcus Prado


A celeuma que se abateu sobre o mundo jurídico do país por conta da prisão do banqueiro Daniel Dantas, do mega-investidor Naji Nahas e do ex-prefeito Celso Pitta dá o tom e pode estar informando que nossas instituições públicas não se acham tão consolidadas como queremos crer .Sozinho, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, cuja vida pregressa talvez não aconselhasse sua presença no cargo, descaracterizou os postulados que sustentam a democracia. Passou ele mesmo por cima das regras que conduzem o processo jurídico concedendo liminares que estavam fora de sua competência e minimizando a autoridade de um Juiz Federal. A crise ensejou protestos de juízes e procuradores, desautorizou, de certa forma, o Ministério Público, provocou o afastamento do delegado Protógenes Queiroz, do comando da Operação Satiagraha e movimentou o próprio presidente da República que defendeu publicamente a permanência de Queiroz à frente do Inquérito. Enquanto o país discutia quem pode e quem não pode ser algemado no ato de uma prisão e um ar de ameaça pairava sobre as instituições públicas, ninguém se lembrou de dizer que a raiz de todos os males desta Nação é uma mentalidade corrupta que permite suavizar a extensão dos crimes de colarinho branco. Não importa quanto o povo pague em fome e desnutrição por estes crimes. A corrupção se tornou um mal de tal forma comum no Brasil que a tentativa de suborno filmada e gravada de um Delegado Federal não é mais motivo de prisão.
É uma situação para lá de constrangedora essa que obriga o diretor da Polícia Federal a tirar férias, afasta um delegado das investigações e provoca troca de farpas entre ninguém menos que presidente do STF e o ministro da Justiça.

Parte do olhômetro da mídia enxerga mal quando vê em todo esse episódio apenas excessos retóricos. O mais grave, dentre todos esses acontecimentos a humilhar a democracia, não é nem a tentativa de suborno do Delegado Federal. É a inexplicável coerência que permite a pessoas flagradas em crime de corrupção ativa, como Humberto Braz e Hugo Chicaroni, alegarem ascensão e influência sobre as decisões das cortes superiores de Justiça do país. Sem contar aqueles que, se utilizando de todo tipo de retórica, insistem em ver crime não no suborno ou nos bilhões desviados pela quadrilha, e sim na ação da Polícia Federal.

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