Quatro executivos da Camargo Corrêa, uma das maiores empreiteiras do Brasil, foram presos nesta quarta-feira (25), sob suspeita de terem feito remessas ilegais de dinheiro para o exterior. Há indícios ainda de superfaturamento, no valor de R$ 72 milhões, da refinaria Abreu e Lima, que está em construção em Suape. No total, dez pessoas foram presas pela Polícia Federal na operação Castelo de Areia.
Segundo a polícia, em conversas telefônicas gravadas, um dos diretores da construtora pede urgência no transporte de dinheiro vivo para o Recife. O delegado relaciona o pedido de dinheiro a indícios de superfaturamento para a construção da refinaria Abreu e Lima.
O dinheiro da contrução da refinaria é da Petrobras e a execução, de um consórcio de empresas, entre elas a Camargo Corrêa. O relatório policial faz referência a uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre superfaturamento na obra e cita suposto prejuízo ao erário público no valor de quase R$ 72 milhões entre março e abril do ano passado.
"Chamam atenção as ligações telefônicas interceptadas exatamente no mesmo período", escreveu o delegado. O juiz Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, completou: “Há uma enorme coincidência de dados e precisam ser devidamente aprofundados.”
Operação Castelo de Areia
Pela manhã desta quarta-feira (25), policiais federais vasculharam a sede da construtora Carmargo Corrêa. Eles buscavam provas para reforçar a investigação sobre supostos crimes financeiros, que foi centrada em um dos presos, o consultor financeiro Kurt Paul Pickel, suíço naturalizado brasileiro.
O relatório da Polícia Federal diz que ele é tido como coordenador e intermediário de operações ilegais de câmbio, de envio de grandes quantias para o exterior e de eventual lavagem de dinheiro - tudo em benefício da Camargo Corrêa ou de diretores da empresa, à margem da fiscalização dos órgãos competentes.
“Pela experiência que nós temos em crimes financeiros, há indícios de que a origem, ou não era contabilizada, ou não era de origem lícita”, diz o delegado da Polícia Federal José Alberto Iegas.
Segundo a investigação, Kurt seria ligado a quatro diretores da Camargo Corrêa que tiveram a prisão decretada: Fernando Dias Gomes, Dárcio Brunato, Pietro Bianchi e Raggi Badra Neto.
O delegado Otávio Rosso escreveu: “Kurt seria o elo entre os diretores da Camargo Corrêa e os doleiros sediados no Brasil, Uruguai e países da Europa.”
Transações
Os doleiros brasileiros teriam feito operações a partir de São Paulo e do Rio de Janeiro, por intermédio de empresas fantasmas. Eles foram identificados como José Diney Matos, Jadair Fernandes de Almeida e Maristela Brunet, também presos nesta quarta.
As transações financeiras, segundo relatório da polícia, tinham aparência de legalidade, eram feitas por meio de banco oficial e a pretexto de pagamento de fornecedores, mas o dinheiro era pulverizado no exterior.
O trabalho da polícia foi baseado em escutas telefônicas, escutas ambientais e no controle de correspondências - tudo com autorização judicial. Segundo a investigação, o teor das interceptações constitui um indício de que, por trás dos supostos crimes financeiros, haveria corrupção envolvendo partidos políticos de expressão nacional e obras públicas executadas pela Camargo Corrêa.
Partidos e Fiesp
O magistrado menciona o relatório da policia: numa das conversas entre dois diretores da construtora, o assunto teria sido a "suposta divisão de R$ 500 mil entre duas pessoas”. No mesmo parágrafo, o juiz diz: “constaria distribuição de dinheiro a diversos partidos, como PPS, PSB, PDT, DEM e PP”. Também são citados o PSDB e PS, este último não aparece na lista de partidos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No relatório, o delegado também afirma que um dos diretores da Camargo Corrêa teria inclusive um pen drive com uma lista de contribuições eleitorais em que constariam os indivíduos que teriam sido pagos.
E o juiz complementa: os supostos intermediários da Camargo Corrêa seriam pessoas eventualmente vinculadas à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que estariam encarregadas de distribuir o dinheiro para funcionários públicos que ocupam cargos relevantes em Brasília. Seriam pagamentos “por fora”, destinados a campanhas políticas e à obtenção de "benefícios indevidos em obras públicas".
“Fica claro que algumas doações que foram efetuadas realmente não estavam contabilizadas por parte do grupo Camargo Corrêa e que tinham a finalidade de beneficiar partidos políticos eventualmente em troca de favores futuros ou atuais”, afirma a procuradora da República Karen Kahn.
Segundo a polícia, R$ 1,5 milhão foi apreendido com um doleiro no Rio. Em São Paulo, as secretárias de dois executivos presos também tiveram prisão decretada. No caso delas, a prisão é por cinco dias.
O que dizem as instituições citadas pela PF
O advogado da empreiteira disse que empresa foi pega de surpresa e que não sabe o porquê das diligências. Ele afirmou, no entanto, que a Camargo Corrêa irá cooperar com todas as investigações e que está certa de que sua isenção será demonstrada. Ele reiterou que a empresa confia na Justiça.
Em nota, a empreiteira disse que “vem a público manifestar sua perplexidade diante dos fatos ocorridos" e que "cumpre rigorosamente com todas as suas obrigações legais, gerando mais de 60 mil empregos no Brasil e em 20 países em que atua."
Segundo a Camargo Corrêa, em 2008, o grupo faturou cerca de R$ 16 bilhões, gerando riqueza ao país e às comunidades em que suas empresas estão inseridas. O grupo reafirmou que confia em seus diretores e funcionários e que repudia a forma como foi constituída a ação, atingindo e constrangendo a comunidade Camargo Corrêa e trazendo incalculáveis prejuízos à imagem de suas empresas.
Em nota, a Fiesp declarou que não se envolve em relações entre as empresas que representa e os partidos políticos e candidatos. A Fiesp acrescentou que não teme qualquer investigação e que confia na Justiça.
A assessoria do PP afirmou que toda doação de campanha recebida pelo partido está na prestação de contas encaminhada ao TSE. O PSDB declarou que, em diversas campanhas eleitorais, recebeu doações da empresa Camargo Corrêa dentro da lei e que desconhece empresa ou doador que tenha atuado fora dos limites legais.
O PSB afirmou que só recebe contribuições do fundo partidário, de seus filiados e de empresas brasileiras, de acordo com a lei, e que desconhece qualquer doação irregular. O PDT afirmou que jamais recebeu doações ilegais e que a prestação de contas do partido foi totalmente aprovada pela Justiça Eleitoral.
O PPS negou ter recebido doação da construtora Camargo Corrêa e afirmou que não aceita nenhuma doação de recursos não contabilizados. O partido repudiou o que chamou de “uso político da Polícia Federal pelo governo” para atingir partidos de oposição. E declarou que vai responsabilizar criminal e civilmente os autores da acusação.
O DEM declarou que jamais aceitou qualquer doação ilegal para campanhas eleitorais e que todos os atos relativos às eleições foram de acordo com a lei. A Petrobras declarou que não considera ter havido superfaturamento na obra, mas que suspendeu o pagamento acatando decisão do TCU.
Fonte: G1
Segundo a polícia, em conversas telefônicas gravadas, um dos diretores da construtora pede urgência no transporte de dinheiro vivo para o Recife. O delegado relaciona o pedido de dinheiro a indícios de superfaturamento para a construção da refinaria Abreu e Lima.
O dinheiro da contrução da refinaria é da Petrobras e a execução, de um consórcio de empresas, entre elas a Camargo Corrêa. O relatório policial faz referência a uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre superfaturamento na obra e cita suposto prejuízo ao erário público no valor de quase R$ 72 milhões entre março e abril do ano passado.
"Chamam atenção as ligações telefônicas interceptadas exatamente no mesmo período", escreveu o delegado. O juiz Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, completou: “Há uma enorme coincidência de dados e precisam ser devidamente aprofundados.”
Operação Castelo de Areia
Pela manhã desta quarta-feira (25), policiais federais vasculharam a sede da construtora Carmargo Corrêa. Eles buscavam provas para reforçar a investigação sobre supostos crimes financeiros, que foi centrada em um dos presos, o consultor financeiro Kurt Paul Pickel, suíço naturalizado brasileiro.
O relatório da Polícia Federal diz que ele é tido como coordenador e intermediário de operações ilegais de câmbio, de envio de grandes quantias para o exterior e de eventual lavagem de dinheiro - tudo em benefício da Camargo Corrêa ou de diretores da empresa, à margem da fiscalização dos órgãos competentes.
“Pela experiência que nós temos em crimes financeiros, há indícios de que a origem, ou não era contabilizada, ou não era de origem lícita”, diz o delegado da Polícia Federal José Alberto Iegas.
Segundo a investigação, Kurt seria ligado a quatro diretores da Camargo Corrêa que tiveram a prisão decretada: Fernando Dias Gomes, Dárcio Brunato, Pietro Bianchi e Raggi Badra Neto.
O delegado Otávio Rosso escreveu: “Kurt seria o elo entre os diretores da Camargo Corrêa e os doleiros sediados no Brasil, Uruguai e países da Europa.”
Transações
Os doleiros brasileiros teriam feito operações a partir de São Paulo e do Rio de Janeiro, por intermédio de empresas fantasmas. Eles foram identificados como José Diney Matos, Jadair Fernandes de Almeida e Maristela Brunet, também presos nesta quarta.
As transações financeiras, segundo relatório da polícia, tinham aparência de legalidade, eram feitas por meio de banco oficial e a pretexto de pagamento de fornecedores, mas o dinheiro era pulverizado no exterior.
O trabalho da polícia foi baseado em escutas telefônicas, escutas ambientais e no controle de correspondências - tudo com autorização judicial. Segundo a investigação, o teor das interceptações constitui um indício de que, por trás dos supostos crimes financeiros, haveria corrupção envolvendo partidos políticos de expressão nacional e obras públicas executadas pela Camargo Corrêa.
Partidos e Fiesp
O magistrado menciona o relatório da policia: numa das conversas entre dois diretores da construtora, o assunto teria sido a "suposta divisão de R$ 500 mil entre duas pessoas”. No mesmo parágrafo, o juiz diz: “constaria distribuição de dinheiro a diversos partidos, como PPS, PSB, PDT, DEM e PP”. Também são citados o PSDB e PS, este último não aparece na lista de partidos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No relatório, o delegado também afirma que um dos diretores da Camargo Corrêa teria inclusive um pen drive com uma lista de contribuições eleitorais em que constariam os indivíduos que teriam sido pagos.
E o juiz complementa: os supostos intermediários da Camargo Corrêa seriam pessoas eventualmente vinculadas à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que estariam encarregadas de distribuir o dinheiro para funcionários públicos que ocupam cargos relevantes em Brasília. Seriam pagamentos “por fora”, destinados a campanhas políticas e à obtenção de "benefícios indevidos em obras públicas".
“Fica claro que algumas doações que foram efetuadas realmente não estavam contabilizadas por parte do grupo Camargo Corrêa e que tinham a finalidade de beneficiar partidos políticos eventualmente em troca de favores futuros ou atuais”, afirma a procuradora da República Karen Kahn.
Segundo a polícia, R$ 1,5 milhão foi apreendido com um doleiro no Rio. Em São Paulo, as secretárias de dois executivos presos também tiveram prisão decretada. No caso delas, a prisão é por cinco dias.
O que dizem as instituições citadas pela PF
O advogado da empreiteira disse que empresa foi pega de surpresa e que não sabe o porquê das diligências. Ele afirmou, no entanto, que a Camargo Corrêa irá cooperar com todas as investigações e que está certa de que sua isenção será demonstrada. Ele reiterou que a empresa confia na Justiça.
Em nota, a empreiteira disse que “vem a público manifestar sua perplexidade diante dos fatos ocorridos" e que "cumpre rigorosamente com todas as suas obrigações legais, gerando mais de 60 mil empregos no Brasil e em 20 países em que atua."
Segundo a Camargo Corrêa, em 2008, o grupo faturou cerca de R$ 16 bilhões, gerando riqueza ao país e às comunidades em que suas empresas estão inseridas. O grupo reafirmou que confia em seus diretores e funcionários e que repudia a forma como foi constituída a ação, atingindo e constrangendo a comunidade Camargo Corrêa e trazendo incalculáveis prejuízos à imagem de suas empresas.
Em nota, a Fiesp declarou que não se envolve em relações entre as empresas que representa e os partidos políticos e candidatos. A Fiesp acrescentou que não teme qualquer investigação e que confia na Justiça.
A assessoria do PP afirmou que toda doação de campanha recebida pelo partido está na prestação de contas encaminhada ao TSE. O PSDB declarou que, em diversas campanhas eleitorais, recebeu doações da empresa Camargo Corrêa dentro da lei e que desconhece empresa ou doador que tenha atuado fora dos limites legais.
O PSB afirmou que só recebe contribuições do fundo partidário, de seus filiados e de empresas brasileiras, de acordo com a lei, e que desconhece qualquer doação irregular. O PDT afirmou que jamais recebeu doações ilegais e que a prestação de contas do partido foi totalmente aprovada pela Justiça Eleitoral.
O PPS negou ter recebido doação da construtora Camargo Corrêa e afirmou que não aceita nenhuma doação de recursos não contabilizados. O partido repudiou o que chamou de “uso político da Polícia Federal pelo governo” para atingir partidos de oposição. E declarou que vai responsabilizar criminal e civilmente os autores da acusação.
O DEM declarou que jamais aceitou qualquer doação ilegal para campanhas eleitorais e que todos os atos relativos às eleições foram de acordo com a lei. A Petrobras declarou que não considera ter havido superfaturamento na obra, mas que suspendeu o pagamento acatando decisão do TCU.
Fonte: G1
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