Coluna do Jornalista Marcus Prado

Carta aos derrotados das urnas

Márcio del Valle
Dirijo-me aos derrotados de todas as cidades brasileiras, embora esta carta tenha um sabor de cachaça de cabeça com limão. Você perdeu. Deu um abalo na caixa de lexotan, ficou mais adoidado. Vai levar um puxão de orelhas do psicoterapeuta.. Não se deixe abater por isso, ô cara!. Não vá entrar em processo de depressão, caso não seja crônico esse estado de nervos. Não demonstre, como muito dizem, desvios de comportamento. Você não é o único político portador dessa doença causada pela ânsia do poder sem limites. E que entra em colapso. Há certas pessoas assim, notoriamente conhecidas nos Anais da história de todos os Continentes. Napoleão Bonaparte foi um deles. O herói da França foi um ilustre ganhador e soube perder com dignidade, mas quase perde a cabeça na sua ilha de desespero e exílio, longe de tudo. Num momento de fúria - a fúria dos perdedores é horrível!!!!, quase mata de porradas o grande amor de sua vida, a Desiree Lacroix. Dizem até que ele caiu do cavalo de bunda pro ar, com medo do Tribunal de Contas, que não havia no seu tempo. Você perdeu e pronto, Insatisfeito, quase repete um episódio trágico que houve no passado de uma certa cidade: a Hecatombe do Rosário. Você perdeu, e acabou. Teve que tomar novo rumo pela BR 232. Quem mandou confiar em pessoas também? Achou que elas iriam ajudar e entrou pelo cano. Não ajudaram e ainda atrapalharam, trabalhando para outras pessoas às escondidas. Eis a traição. São tantos, numerosos, você nem imaginava, até uma certa falange dos mais próximos - penso eu – porque são tantas as evidências!!! Coisas que acontecem com politicos que se imaginam eternos donos da vontade popular, que não admitem o julgamento dos eleitores. Que usam métodos semelhantes - às vezes – ao regime do III Reich, um Reich na sua forma tupiniquim mais bisonha e até patética, minúscula. Perdeu, perdeu sim, e não vá ficar descontando a raiva em cima das pessoas mais próximas. Faz isso não, visse? Essas sim, são tuas amigas. Passe a dar mais valor a elas. Agora há um pequeno detalhe: perdeu, mas vai ter que pagar. Vai ter que pagar àquelas mocinhas feias, mal-acabadas que ficaram trabalhando como cabos eleitorais, dia e noite, assediando os eleitores indecisos com muita falta de qualidade e num desânimo de fazer dó. Coitadas, ganhavam um salário de fome e eram humilhadas. Também, pô, disseram que você deu pão com salame de almoço. Nota zero para você no quesito nutrição. O que diria sobre isso o nosso grande Josué de Castro, que está completando 100 anos? Vai ter que pagar àquele motoqueiro chato com seu alto-falante ruidoso, que ficou enchendo a paciência e os ouvidos por toda a cidade com sua moto-som desafinada e com aquele jingle besta. ( Nota zero a quase todos) Veja se manda alguém limpar a rua também, tirando os milhares de santinhos jogados nas sarjetas que haverão de entupir bueiros e demais escoadouros de água. Se bem que essa limpeza deveria ser feita por várias pessoas, às vezes até pelos vitoriosos. Mas aos vitoriosos, os louros da vitória, não lhes cabe sair por aí limpando a rua dos derrotados. Aos perdedores, as favas. Quem perdeu a eleição e sujou deveria até dar o bom exemplo e pegar umas vassouras piaçavas e varrer pelo menos uma dúzia e meia de ruas (seria uma boa jogada de marketing). Muitos deveriam limpar um pouquinho a imundície que fizeram. Ninguém merece ficar olhando tanta cara feia estampada em panfletinho no meio da rua. Merecem todos são umas boas palmadas das respectivas mães. Pisaram na bola com os garis!! A eles, aquele abraço!
Mas, voltando ao assunto, você perdeu, ô cara, e amarga o mais triste choro da política. Velho político vitoriense, Zé Joaquim, fazendo coro com Agamenon Magalhães disse um dia que perder, na política, é a coisa mais feia do mundo, mais triste. Perdeu e vai ter que pagar as dívidas que fez. Vai ter que pagar àquele carroceiro que ficou andando com sua foto pendurada na carroça. Vai ter que pagar uma encerada no carro do seu compadre que ficou cheio de adesivos e a pintura do veículo nunca mais será a mesma. Quem mandou ser bobo também? No entanto, o pior foi ter pensado que aquele político chegado à sua candidatura ia ajudá-lo. (Deixo claro mais uma vez: não me refiro especificamente aos políticos da terra, embora daqui tenha extraído partes do espelho desta crônica). Ele acabou foi piorando sua imagem. Você achou que o manda-chuva daquela instituição ia arrumar muitos votos e ele até praticamente obrigou os subordinados a votarem em você, mas o tiro saiu pela culatra e você dançou. E você gastou dinheiro, e como gastou dinheiro. E se cansou demais. Merece até umas férias naquela praia de gente peladona da Paraiba. Você tem dinheiro para isso, então vá e aproveite. Acalme-se, deixe o vento bater nas suas partes mais íntimas e nos seus nervos, tome suco de maracujá e repense sua vida e quem sabe você não pára de ficar mexendo com política, pelo menos por uns tempos. E, reiterando, pare de ficar acreditando em todo mundo que sorri para você. Muita gente é falsa (a falsidade é um ingrediente fortíssimo na política, seja de onde for) e fala para agradar, fala para conseguir favor, emprego para o sobrinho, para ganhar presente e tal. Confie desconfiando das pessoas. Quantos, foram numerosos, que prometeram votar na oposição ao seu governo, virou a casaca na última hora?
Mas mude, fundamentalmente, seu curral eleitoral e suas jogadas de marketing. Vá ao culto mais vezes, até o ministrado pelo milionário E.M. , aquele da sacolinha, faça novena, tome passes, reze pra valer, benza-se no pai-de-santo mamador e até tome garrafada de arruda em noite de lua cheia. (O lugar ideal prá isso é na Ladeira de Pedras, à noite, há uma vista belíssima da cidade!). Veja se aprende a lição e levante essa cabeça, ô cara!. Levante, sacuda a poeira e dê a volta por cima. Relaxe, tome uma dose de Pitu – e goze, não no sentido epidérmico da palavra. A vida é bela, o amor é lindo. Situação pior foi a de Napoleão Bonaparte perto de conquistar o mundo: perdeu a guerra , caiu da cela, roubaram-lhe o cavalo branco era a coisa mais linda do mundo) , foi socorrido pelo urologista e ainda levou pontos.

10 comentários:

Anônimo disse...

Monica Dantas

Texto simplimente genial.

Parabéns Marcus Prado, mais parabéns mesmo para Vitória de Santo Antão-PE.

"Liberdade, liberdade abre as asas sobre nós"

Liberdade teu dia é 01/01/2009.

Anônimo disse...

Não o conheço nobre "jornalista" se assim v. sa. obtiver diploma. Se sim... você deve ter algum interesse pessoal em escrever algo neste tom?! só faço uma pergunta, o que v. sa. contribui com nossa cidade? só tem direito de fazer questionamentos pessoais.. aqueles que não são farinha do mesmo saco.

Anônimo disse...

use,a sua nomeclatura para fazer relatos humanos,isso é ridiculo pra vc!pra q/ estudar tanto, isso é se estudou. respeite mais o povo marcus prado.

Flores do Brasil disse...

Monica Dantas

Muito grato pelas honrosas referências. Sinta-se igualmente à vontade para discordar de minhas idéias. O que escrevi foge por inteiro de meu estilo jornalístico. Ao longo de 50 anos de jornalismo profissional, iniciando-me aos 15 anos na Vitória e, depois, como redator de cultura do Diário de Pernambuco, foi esta a primeira vez que escrevi algo em tom satírico. Não faz na verdade o meu gênero. Mas as eleições na Vitória tiveram este ano uma dose tão forte de cenas impagáveis, que resolvi alinhavar aquela carta aos derrotados. Meu foco - não exclusivo - foi o ex-prefeito (ele é digno de um biógrafo da linhagem de um Gregório de Matos) Ao eleito fique certa que nada vou pedir, porque em nada contribui para a sua eleição. Pelo que vejo, um "anônimo" , que "não me conhece", não gostou. Mesmo assim, cara amiga, leio com humildade até as críticas vindas dos ( mais ou menos) anônimos. Não os vejo como covardes, porque se escondem invariavelmente nas sombras noturnas da palavra. Sempre tive apreço - como jornalista - às cartas anônimas, são - quando bem feitas ( o que não é o caso) um ótimo subsídio ao meu íntimo ( e secreto) banco de dados.
Cordialmente,
Marcus Prado

Anônimo disse...

Ainda para Monica Dantas e em resposta a alguns e-mails, todos elogiosos, que recebi, até, de uma leitura - Iscarlete - que reside na Espanha. Veio-me à lembrança, quando fiz aquela sátira sobre as eleições, já te disse , impagáveis e por um triz trágicas, de Vitória (trágica porque quase repetiram o mais triste episódio político dessa cidade, quando morreram dezenas de pessoas - em circunstâncias eleitorais idênticas - na Hecatombe do Rosário), veio-me à lembrança, repito, minha saudosa amiga Magdalena Freyre, esposa de Gilberto Freyre. Conivivi com o casal, durante anos, levado desde a primeira vez por Gladstone Vieira Belo Vieira Belo, meu companheiro de Redação do DIARIO,de quem Gilberto era amigo. A propósito de cartas anônimas, aquelas publicadas na Imprensa pelos invejosos, contra a obra genial de Gilberto e até aquelas críticas assinadas, de qualidade literária e científica duvidosa, dona Magdalena me disse um dia que nunca as desprezava por inteiro. " elas têm um destino certo - o WC". O que era o WC? Era uma coletânea de textos, cartas e documentos anônimos que ela colecionava com muito gosto. Criticar Gilberto, era querer obter o que jamais conseguiram: uma resposta do autor de Casa-Grande Senzala. O que fui na minha vida toda e sou ainda hoje é jornalista. Não tenho fama de nada nem sou autor de uma obra genial como a de meu mestre e amigo Gilberto, mas sinceramente, não condeno os que se escondem no anonimato, nem tenho o meu particular WC prá dar descarga a toda hora. Aliás, não guardo nada do que escrevo, deixei sob guarda do I.Histórico tudo o que escrevi e publiquei dentro e fora do Brasil sobre temas de literatura e arte. Mais de 10 mil textos assinados, sem falar dos que escrevi por simples dever de ofício, sem assinatura. Não tenho como guardar e gostaria muito de juntar as chamadas coisas anônimas, salvo aquela carta ( perdida) de uma rapariga, belissima, que eu amei na antiga Zona dessa cidade. Era linda, cheia de sortilégios. Foi ela quem me deu as primeiras lições da alquimia do êxtase. Não olhava prá outro homem quando eu chegava no saudooso Salão Azul, prá mim, patrimônio imaterial do meu íntimo belvedere. Nunca vi mulher de cama melhor: tinha o hábito, prá me agradar, de dizer poemas de sacanagem, meus preferidos, de jurar fidelidade ( pelo menos naquela hora). E por falar de sacanagem, lembro ao leitor apenas um certo político vitoriense do passado que, em respeito à sua memória, omito aqui o seu nome, geralmente em períodos eleitorais - usava do artifício do anonimato para obter resultados difamatorios contra seus opositores. Assim mesmo não o condeno, porque sei que Niccolo Maquiaveli ainda vive e viverá sempre, e se " reencarna" a toda hora em todos os lugares. Principalmente na Vitória. O que condeno com veemência são os gestos inconsequentes de rebelião das massas ( lembro aqui o grande Ortega y Gasset) , levando-as a extremos suicidas como aqueles que por milagre não repetiram a Hecatombe do Rosário. O que condeno é o fanatismo político, que leva a extremos como aquele de Antônio Conselheiro, em Canudos. O político, quando habilidoso, é mestrissimo nessas coisas, sobretudo numa cidade como a nossa, que talvez mais da metade da população ou é funcionária da Prefeitura ou depende indiretamente dos cofres municipais. A cidade, nas eleições de outubro, acumulou tanto lixo moral, que vai custar muito tempo desinfeta-la. Miguel de Unamuno, o genial reitor da Universidade de Salamanca - que visitei várias vezes em missão de Jornal - disse um dia A ESPANHA ME DÓI. A minha terra natal, prá mim o melhor lugar do mundo, durante muito tempo era assim,vem de longe, não é de agora, sabemos todos. embora reconheça alguns avanços, a começar pelo saudoso amigo Manuel de Holanda até os nossos dias. Mas, sinceramente, a lembrança da doce rapariga do Salão Azul, neste instante, me deixou sem rumo prá insistir na escrita deste depoimento sem nenhum ressentimento ou mágoa dos anônimos da vida. Porque anônimo, na verdade, passar por inrteiro despercebido pelas ruas da cidade, é o que mais desejo ser na minha terra natal. Sou feliz quando chego aí. Ninguém me conhece mais, salvo algumas raras pessoas do meu tempo vitoriense, e a lembrança que trago quando passo pelo Salão Azul... aquilo é que era cabaré!!!. Certa vez, levando comigo( prá mostrar a seu pedido os canaviais da Zona da Mata, uma redatora de assuntos econômicos do Time, de NY, fiz uma escala na Vitória, e ao passar pelo velho Salão Azul, que não existe mais, abri os braços e gritei (para seu espanto) CADÊ A CLARICE, A MAIS GOSTOSA RAPARIGA DESTA ZONA? Sabia perfeitamente que foi dela a mais triste carta anônima que recebi na minha vida, as outras não trazem o sabor noturno do Salão Azul. Há poucos dias, quando lancei no I Histórico o mais recente número de sua Revista, tive a oportunidade de conversar com amigos meus da Rede Globo que estavam lá, meus convidados, e lhes disse: Pra mim, tudo aqui, nesta cidade tem o sabor de eternidade. Digo agora aos leitores deste blog, os beijos da Clarice tinham um especial sabor de eternidade. Encerro aqui sobre o tema politico, e não voltarei, seja qual for a circunstância, a expor qualquer comentário meu. Mas, se querem saber algo mais sobre a doce rapariguinha do Salão Azul, leiam a continuação do que publiquei na Revista do I. Histórico, fragmentos de um livro que estou escrevendo sobre minha terra natal.

Marcus Prado

Anônimo disse...

marcus respeite o povo vitoriense e as pessoas humildes... que coisa feia, jornalista marrom.

JOsenlda Alves disse...

Que texto maravilhoso!!!!
Adorei os trocadilhos, as alusões, o sarcasmo, o recado, a gramática!!!
Muito bom!!!!!!!
:)

Anônimo disse...

Marcus, parabéns pela cronica, me divertir muito ao ler. esse esses antonimos que te criticaram devem ser aquelas pessoas que estão mamando das tetas generosas, na mão prefeitura, que apartir de 1ª de Janeiro, vão ter que arrumarem o que fazer ..., escreva mais estou aguardando nova cronicas

Anônimo disse...

Marcus Prado não é jornalista, na época em que trabalhava na area não existia o curso de jornalismo regulamentado. Minha visão por Marcus Prado depois deste texto é outra, perdeu um fã.

Anônimo disse...

antonimos (sic)

votei em elias querida, com muito orgulho, mas respeito as pessoas, sobretudo as mais humildes, e qual o problema de se trabalhar na prefeitura? é um trabalho digno igual a outro qualquer. vc discrimina igual ao texto. Sou 25, mas tenho minha opinião crítica, não quero emprego em prefeitura, a eleição passou não vou ficar fazendo texto pra babar nem A nem B. Só sou contra a forma que se faz política em Vitória, não votei porque sou fã em Elias, votei porque não gosto da forma de governo de Aglailson. Mas ele que diz ser jornalista, escreve um texto igual a esse, de forma jocosa que seja, mas nas suas entrelinhas, ele esquece que somos filhos da mesma cidade, não é dessa forma que se vai ter consciencia política. Pense nisso jornalista!

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