Coluna do Jornalista Marcus Prado
Não sei até que ponto a reforma era necessária
E o Acordo Ortográfico entrou em vigor neste início de 2009. Proposto em 1990 – vão-se quase 20 anos – o acordo ficou esperando que todos os países que tem como língua oficial o português aderissem e ninguém, ao que parece, foi estudá-lo a fundo para padronizá-lo e dirimir as dúvidas que, com certeza, apareceriam. E apareceram, confundindo a todos que querem se adequar. Algumas regras são um tanto quanto genéricas e em alguns casos, evasivas. Como em um dos casos do hífen: "O hífen deixa de ser usado quando se perdeu a noção de que a palavra é composta".
Quais são todas as palavras que perderam a noção de compostas? As atualizações com a nova reforma publicadas pelos grandes dicionários, como Aurélio, Michaelis e outros, citam quase sempre as mesmas palavras, provavelmente as citadas no acordo original. Mas e o resto? Uma palavra composta pode parecer ter perdido a noção de composta para mim, mas para outros não. Sem contar que há casos em que mais de uma regra se aplica ao mesmo caso.
Então estamos todos esperando a padronização, a reforma tratada de forma clara e detalhada, que será publicada pela Academia Brasileira de Letras. A Imprensa diz que esse documento sairá até final de janeiro. Eu acho que já deveria ter saído no final do ano passado, mas vamos esperar o final do mês para ver se teremos todas as inconsistências deste acordo ortográfico que teve tanto tempo para ser esmiuçado e não foi.
Não sei até que ponto essa reforma era necessária, pois não muda a pronúncia de nenhuma palavra e a forma de escrevê-las, com hífen ou sem hífen, com acento ou sem acento, não muda a compreensão de nenhuma delas. A leitura dos textos de um país em outro onde o português é a língua oficial também continua como sempre foi. A compreensão só apresentará dificuldade nos casos de palavras que são usadas exclusivamente em um ou outro dos países e de palavras com sentido diferente em um e outro país. O que já acontecia e continuará acontecendo. Mas como essa é mais uma decisão política do que cultural, vamos tentar nos adequar.
Quem vai ser onerado, não só no Brasil, é o poder público, que terá de pagar a reimpressão (vai hífen aí ou não? Este caso é um que têm tido interpretações diferentes dos dicionaristas) de todos os livros didáticos da escola pública. E quando digo poder público, lembro que me refiro a nós, cidadãos, que pagamos impostos. O que significa que quem está pagando a conta somos nós.
Essa reforma trará benefícios para alguém, além das editoras e gráficas? Duvido que os livros de qualquer gênero, de qualquer autor, de qualquer país dos envolvidos na reforma serão mais vendidos, agora, em qualquer dos países que falam a língua portuguesa, diferente daquele do autor
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